O governo da Ucrânia fez ao menos dois pedidos ao Brasil para comprar armamentos, entre eles veículos blindados, sistemas de defesa aérea, morteiros, rifles de precisão, armas automáticas e munições, de acordo com documentos obtidos pelo jornal americano The New York Times, citados em reportagem publicada nesta quarta-feira, 12.
A revelação foi feita poucos dias depois de um grande vazamento de documentos secretos do Pentágono sobre a guerra na Ucrânia. Além de expor a extensão da espionagem de Washington contra aliados importantes, incluindo Coreia do Sul e Israel, os documentos também indicam detalham as principais fraquezas do Exército ucraniano, incluindo limitações da defesa aérea e tamanho de batalhões em áreas sensíveis.
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Dada a necessidade de suprimentos para conter tropas russas, a Ucrânia vem buscando recursos. O Brasil se encaixaria nesse cenário para fornecer suprimentos de defesa aérea. Segundo o New York Times, o governo brasileiro ignorou amplamente os dois pedidos.
Entretanto, o posicionamento do Brasil não é singular. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, disse em janeiro que rejeitou os pedidos americanos para enviar as armas do país aos Estados Unidos, que então as entregaria à Ucrânia. A justificativa seria que a Constituição colombiana exige que ele busque a paz, afirmando posteriormente que o governo colombiano não está “com ninguém”.
A Coreia do Sul também se recusou a oferecer assistência bélica à Ucrânia, citando sua política de não enviar armas a um país em guerra. De acordo com os documentos vazados do Pentágono, os altos funcionários de Seul temiam a pressão de Washington para enviar munição para a Ucrânia de qualquer maneira, porém o governo sul-coreano contestou a precisão dos documentos.
O Brasil, apesar de ter condenado a invasão russa de 24 de fevereiro de 2022 nas Nações Unidas, escolheu manter uma posição de relativa neutralidade, evitando sanções contra o presidente russo, Vladimir Putin, por motivos econômicos. A agricultura brasileira é altamente dependente dos fertilizantes de Moscou – de 2018 a 2022, vendeu em média 22% do produto consumido pelos brasileiros –, e a Rússia é um grande exportador de produtos como o diesel para o país.
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Ao mesmo tempo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta se apresentar como um possível articulador de uma proposta de paz. Em fevereiro, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, disse que o governo do presidente Vladimir Putin recebeu a proposta de paz na Ucrânia enviada pelo líder brasileiro e enfatizou a importância da visão do Brasil, que é parceiro estratégico de Moscou, tanto bilateral quanto globalmente.
Em janeiro, a Alemanha tentou intermediar o envio de munição brasileira à Ucrânia, o que foi prontamente rejeitado. “Ainda acho que quando um não quer, dois não brigam”. Em 6 de abril, Lula reconheceu que a Rússia “não pode manter o território ucraniano” que capturou desde 2022, embora tenha sugerido que a Ucrânia pode ter de entregar a Crimeia em um acordo para acabar com a guerra.
Os documentos atribuídos ao Pentágono sobre a guerra na Ucrânia, no entanto, indicam que os Estados Unidos suspeitam que o líder russo, Vladimir Putin, pretendia usar o plano de Lula para a guerra na Ucrânia a seu favor. O relatório ultrassecreto sugere, segundo a inteligência americana, que as autoridades russas acreditavam que o plano “para estabelecer um clube de mediadores supostamente imparciais para resolver a guerra na Ucrânia rejeitaria o paradigma de ‘agressor-vítima’ do Ocidente”.