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Turquia está pagando caro por estratégia ambivalente com EI

'Dirigentes do AKP, que se negaram a catalogar o EI como organização terrorista, são responsáveis pelo massacre', afirmou a porta-voz do principal partido de oposição laico

Por Da Redação
3 jul 2016, 08h51

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que durante muito tempo foi acusado de ser tolerante com o grupo extremista Estado Islâmico (EI), está pagando caro pela intensificação de suas ações contra a organização, que Ancara responsabiliza pelo atentado contra o aeroporto de Istambul que deixou 44 mortos. Especialistas projetam que poderão acontecer novos atentados no país, que tem sido terreno fértil para o grupo, que não encontra dificuldades no recrutamento de novos membros.

A oposição acusa o presidente Erdogan, um islamita conservador, de ter favorecido o extremismo que agora atinge a Turquia. “A Turquia combate atualmente com bravura o Estado Islâmico, mas seus erros do passado deixaram sequelas”, explicou Sinan Ülgen, presidente do Centro de Economia e Política Exterior, com sede em Istambul. Este ex-diplomata assinalou que o país está muito exposto aos ataques devido a sua posição geograficamente estratégica, na fronteira da Síria e do Iraque, onde o grupo controla extensos territórios. “A Turquia é um terreno fácil para as operações do EI, muito mais do que a Europa”, considerou.

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Durante o início do conflito, a Turquia foi tolerante com os extremistas porque tinha um inimigo comum na Síria, o regime do ditador Bashar Assad, o “bicho-papão” de Erdogan. Para a Turquia, os extremistas também eram um instrumento eficaz contra as ambições de autonomia dos curdos sírios, considerados como uma ameaça, à medida que Erdogan luta contra os rebeldes curdos em seu próprio território. Dessa forma, as informações sobre os centros de recrutamento nas cidades turcas, incluindo Istambul, pipocam na imprensa local, assim como sobre a atenção médica dada aos extremistas nos hospitais na fronteira com a Síria.

Mas, um alarme soou depois do duplo atentado suicida que deixou 130 mortos em outubro passado no centro de Ancara, atribuído a uma célula do EI na Turquia. Após o ataque, o governo foi objeto de muitas acusações por sua atitude sobre o grupo. Desde então, a Turquia se converteu em um membro muito ativo da coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico.

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“Células adormecidas” – As autoridades turcas anunciam regularmente operações para desmantelar “células terroristas” e detenções. Segundo o Ministério do Interior, houve cerca de 400 prisões vinculadas ao EI e a atividades extremistas. Mas isto não parece frear o radicalismo em um país muçulmano situado entre a Ásia e a Europa, onde os defensores de um Estado laico denunciam uma islamização crescente da sociedade desde a chegada ao poder do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), em 2002. “A capacidade do Estado Islâmico e de outros grupos sunitas poderia continuar se desenvolvendo enquanto permite que um islamismo político cresça sem controle no interior do país”, considerou Ege Seckin, analista da consultora IHS. Seckin também assinalou que é difícil lutar com “a natureza semiautônoma e não-hierárquica das células do EI na Turquia”.

Novos atentados – Os especialistas concordam que imaginam que novos atentados irão ocorrer, especialmente de células adormecidas, que, segundo os serviços secretos turcos, poderiam ter recrutado até 3.000 pessoas. Estes grupos poderiam, inclusive, estar atuando muito próximo das autoridades, captando membros nas universidades de Ancara e Istambul, onde uma juventude vulnerável e desfavorecida, que odeia os valores ocidentais, é um terreno fértil, informou recentemente o jornal de oposição Cumhuriyet.

Para a oposição parlamentar, a Turquia, que favoreceu esta situação, não está preparada para fazer frente aos riscos. “Quem se mostra tolerante com o terrorismo e que inclusive é seu cúmplice, não pode combatê-lo”, assinalou a porta-voz do principal partido de oposição laico, Selin Sayek Böke, depois dos ataques de Istambul. “Os dirigentes do AKP, que se negaram a catalogar o EI como uma organização terrorista, são responsáveis por este massacre”, afirmou.

(Com agência France-Presse)

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