Demorou o dia todo, mas o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acabou telefonando a seu colega brasileiro, Jair Bolsonaro, para oferecer ajuda no combate aos incêndios na Amazônia. Trump passara incólume aos quase dois dias de conflitos verbais entre Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron.
“Acabo de falar com o presidente Jair Bolsonaro. Nossas perspectivas futuras para o comércio são muito empolgantes e nossa relação é forte, talvez mais forte do que nunca antes”, escreveu. “Eu disse para ele que os Estados Unidos podem ajudar com os incêndios da floresta Amazônica. Nós estamos prontos para ajudar.”
Por meio do Twitter, registrou sua chamada a Brasília, mas aparentemente não quis comprar a briga de Bolsonaro contra a parte do mundo preocupada com a preservação da floresta amazônica. O americano já tem as suas próprias guerras contra a agenda ambientalista, que associa ao Partido Democrata, e a de mudança climática, que nega existir. Os agropecuaristas de seu país, além disso, ficariam bastante felizes em ocupar o espaço dos concorrentes brasileiros na Europa e outros cantos do mundo se represálias forem impostas ao Brasil.
A expectativa do Palácio do Planalto é que o presidente americano tome as dores do Brasil na reunião de cúpula do G7 em Biarritz, neste final de semana. Anfitrião do encontro, Macron incluiu a crise da Amazônia e a biodiversidade na agenda de discussões. Embora seja improvável a adoção de sanções, é possível sair dali novas pressões diplomáticas contra Bolsonaro.
Antes de Trump, os líderes do Reino Unido, Argentina, Chile e Equador e a Comissão Europeia já haviam se colocado à disposição do Brasil e da Bolívia, onde também há focos de incêndio, para ajudar no combate ao fogo. Uma autoridade da Casa Branca limitou-se a manifestar a “preocupação profunda” dos Estados Unidos com as queimadas.
“Estamos profundamente preocupados com o impacto dos incêndios na Floresta Amazônica sobre as comunidades, a biodiversidade e os recursos naturais da região”, afirmou o assessor de Trump, que pediu para não ser identificado.
No tuíte, Trump lembrou-se das perspectivas de negociação de um acordo de livre comércio entre os Estados Unidos e o Brasil – um tema controverso e que só teria alguma chance se envolvesse todo o Mercosul. O tema foi aventado no mês passado. A menção deu-se justamente pouco depois do anúncio da conclusão do acordo de liberalização de comércio entre o bloco sul-americano e a EFTA (Suíça, Islândia, Noruega e Lichtenstein).