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Treme, mas não cai: os últimos atos da poderosa Angela Merkel

A chanceler alemã passa mal duas vezes em público, porém continua trabalhando como se nada houvesse. Resta ver se irá até o fim do mandato, em 2021

Por Kátia Mello
Atualizado em 30 jul 2020, 19h43 - Publicado em 5 jul 2019, 06h30

O que há de errado com Angela Merkel? No curto intervalo de dez dias, a chanceler alemã, a força mais constante e inabalável da política europeia nas últimas décadas, passou mal duas vezes em público: seu corpo todo foi tomado por uma tremedeira incontrolável. Como falar da vida pessoal alheia é hábito de extremo mau gosto, ninguém investigou a fundo, e Merkel limitou-se a dizer que estava “bem”, e pronto. Disse e provou. Da cerimônia de posse de ministro em que tremeu por dois minutos, ela foi ao Parlamento para discursar, depois embarcou em um voo de doze horas para o Japão, marcou ponto em dez reuniões bilaterais no encontro do G20 em Osaka e, na volta, parou em Bruxelas para um dia inteiro de negociações sobre a nova liderança da União Europeia. Puxado, mas sua agenda é sempre carregada e cumprida com eficiência prussiana. Desta vez, porém, a reação mundial foi de susto, alimentado pelo fato de que os dois problemas de saúde acontecem quando falta pouco para Merkel se aposentar: ela não vai se candidatar na próxima eleição e sairá de cena de vez no fim de seu mandato como chanceler, em 2021. E como ficará a Europa sem Angela Merkel?

Embora ainda poderosa, ela já não é a mesma. A maratona de reuniões em Bruxelas não impediu a eleição do socialista italiano David Sassoli — nem de longe seu candidato preferido — para a presidência da União Europeia. Em compensação, Merkel marcou um tento com a escolha da alemã Ursula von der Leyen para a liderança da Comissão Europeia, o órgão executivo do bloco — a primeira mulher a chegar lá. Ursula é ministra da Defesa de Merkel e filiada a seu partido, a União Democrata Cristã (CDU). É justamente na questão partidária que repousam as maiores dúvidas sobre o futuro político da Alemanha — além do estado de saúde da chanceler, é claro.

Enredada no desmoronamento geral dos partidos tradicionais na Europa, a CDU levou uma solene rasteira dos verdes nas eleições de maio para o Parlamento Europeu. A líder do Partido Social-Democrata (SPD), Andrea Nahles, renunciou ao posto e pediu o fim da coalizão com os democrata-­cristãos de Merkel. Os aliados dela, em geral, vêm perdendo terreno em eleições locais, tanto para os verdes quanto para a extrema direita, e a conta do mau desempenho recai com frequência sobre Annegret Kramp-Karrenbauer, escolhida para liderar a CDU — e, eventualmente, o país — no lugar de Merkel, acusada de haver cometido erros durante as campanhas eleitorais.

VITÓRIA – Ursula von der Leyen: líder da Comissão Europeia, como Merkel queria (TF-Images/Getty Images)

Nascida Angela Dorothea Kasner em Hamburgo, mas criada na então Alemanha Oriental comunista quando o pai, pastor luterano, foi trabalhar lá, ela só entrou para a política depois da queda do Muro de Berlim e do término da divisão entre os dois lados, em 1989. Chefe da maior economia europeia, passou a ser símbolo de estabilidade e bom-senso, cruzando, quando achou que devia, princípios partidários. Enfrentou os conservadores da CDU para abrir as portas da Alemanha a milhares de refugiados, na mais ousada política de imigração da região. Coube a ela também, diante da crise financeira de 2008, formar uma aliança de financiadores e salvar a Grécia, prestes a falir. Ao se encontrar com o presidente Jair Bolsonaro durante a reunião do G20, disse que via com grande preocupação a questão do desmatamento na Amazônia. Ele rebateu dizendo que a Alemanha “tem muito que aprender com o Brasil”.

Sua popularidade mundial é bem maior que a de qualquer outro líder. Uma pesquisa realizada em 25 países no ano passado pelo Pew Research Center, dos Estados Unidos, revelou que 52% dos europeus confiam nela — o dobro da porcentagem dos que se sentem seguros com o presidente americano Donald Trump. Sua saída será um baque, com certeza — mais ainda se for antecipada por questões de saúde. “É bem provável que a Europa passe por um período de incertezas”, diz Janis Emmanouilidis, analista do Centro de Política Europeia, de Bruxelas. Enquanto isso, Merkel, a incansável, continua trabalhando.

Publicado em VEJA de 10 de julho de 2019, edição nº 2642

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