Tragédia com o submarino Kursk completa dez anos
A decadência militar russa e a ineficiência das autoridades fizeram com que não houvesse sobreviventes
Toda a tripulação dos compartimentos 6, 7 e 8 veio para o compartimento 9. Há 23 pessoas aqui. Tomamos essa decisão por causa do acidente. Nenhum de nós pode escapar. Estou escrevendo isso no escuro
Em 12 agosto de 2000, o mundo acompanhou o drama de 118 marinheiros russos que estavam presos no interior de um submarino nuclear naufragado, o Kursk. Hoje, dez anos após a tragédia, as causas do acidente ainda não foram totalmente esclarecidas. O que se sabe é que duas explosões de causa ainda desconhecida fizeram com que o Kursk afundasse nas águas geladas do Mar Barents, a 108 metros de profundidade.
Fotos: Confira imagens da tragédia
Além da morte sofrida dos militares, o que chamou a atenção da opinião pública internacional foi a demora das autoridades russas em confirmar o acidente e, principalmente, em aceitar ajuda de outros países. O grande temor dos ex-soviéticos era de que os Estados Unidos aproveitassem a ocasião para espionar durante as ações de resgate. O então presidente Vladimir Putin estava em férias num balneário no Mar Negro e, de início, manteve-se indiferente ao que acontecia em seu país. Quando eleito, Putin prometera recuperar o orgulho militar da nação russa, mas mostrou-se um fracasso. Quatro dias após o acidente, ainda em férias, ele ordenou que a Rússia aceitasse qualquer oferta de ajuda internacional. Tarde demais.
Resgate – Alguns tripulantes do submergível sobreviveram às explosões e se refugiaram na parte traseira do submarino. Um bilhete encontrado no bolso do uniforme de um dos corpos resgatados revelou a angústia da certeza de morte daqueles marinheiros. “Toda a tripulação dos compartimentos 6, 7 e 8 veio para o compartimento 9. Há 23 pessoas aqui. Tomamos essa decisão por causa do acidente. Nenhum de nós pode escapar. Estou escrevendo isso no escuro”, relatou o capitão Kolesnikov.
Especialistas avaliaram que o autor do bilhete e seus companheiros sobreviveram pelo menos durante quatro horas após as duas explosões. Os tripulantes mantiveram-se praticamente imóveis, para poupar o oxigênio do local, enquanto aguardavam pelo resgate – que não chegou. Uma semana após a tragédia, mergulhadores noruegueses chegaram ao submarino e constataram o que todos já sabiam. Não havia ninguém vivo.