Tenista chinesa Peng Shuai reaparece, mas caso ainda é nebuloso
Após sumir da vida pública por um mês, atleta negou em entrevista nesta segunda-feira ter feito acusações contra autoridade do alto escalão chinês
Em mais um capítulo de uma história controversa, a tenista chinesa Peng Shuai, que desapareceu da vida pública depois de fazer em novembro passado acusações de abuso sexual contra uma autoridade chinesa do alto escalão, participou de uma reunião privada com o presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach, em Pequim, durante o fim de semana. O encontro foi revelado em entrevista ao jornal esportivo francês L’Équipe, a primeira desde novembro a um veículo de comunicação internacional independente.
“Ele (Bach) perguntou se eu pensava em voltar a competir, quais eram meus projetos, o que prevejo”, explicou Peng na entrevista.
Oficialmente, os detalhes do encontro com Bach, anunciado na última quinta-feira, não foram divulgados. Um porta-voz do COI confirmou que houve de fato um encontro, e uma declaração sobre o teor da conversa é esperada ainda nesta segunda-feira.
Perguntado se planeja pressionar por uma investigação sobre as acusações de abuso sexual feitas por Peng, Bach afirmou na quinta-feira que primeiro falaria com ela para ver se a atleta deseja uma investigação.
Deve ser a decisão dela”, disse, segundo o jornal New York Times. “É a vida dela. São as acusações dela”.
Em novembro, a jogadora de duplas que foi número um do mundo e participou de três Jogos Olímpicos alegou nas suas redes sociais que o ex-vice-primeiro-ministro chinês Zhang Gaoli a havia agredido sexualmente. Nem Zhang nem o governo chinês comentaram a alegação. Apostagem de Peng foi rapidamente excluída e o tópico foi bloqueado da discussão na rede sociais.
A atleta não foi vista publicamente entre 2 de novembro e 21 de novembro, gerando preocupações sobre censura, além de sua segurança e bem-estar. Na ocasião de seu reaparecimento, ela participou de uma videochamada com a presidente da Comissão de Atletas do COI, Emma Terho, e com o membro do COI na China, Li Lingwei. No contato que durou meia hora, “ela explicou que está segura e bem, morando em sua casa em Pequim, mas gostaria que sua privacidade fosse respeitada neste momento”.
Pouco depois, em dezembro, ela voltou atrás, dizendo que nunca acusou ninguém de agredi-la sexualmente e que a publicação foi mal interpretada. Mesmo assim, as preocupações sobre sua segurança e bem-estar não foram dissipadas.
À agência de notícias Reuters, um porta-voz da Associação de Tênis Feminino (WTA, na sigla em inglês) afirmou que as fotos e vídeos que surgiram das breves aparições de Peng continuavam “insuficientes”. A Federação Internacional de Tênis (ITF) também disse que continuará a buscar a confirmação de Peng de que ela está segura.”Nossa principal preocupação é a segurança e o bem-estar de Peng Shuai”, disse o presidente da ITF, Dave Haggerty.
Durante a entrevista publicada nesta segunda-feira, ela voltou a negar que fez qualquer acusação, repetindo os comentários feitos em dezembro, e que não queria “continuar qualquer espetáculo midiático” sobre a questão.
“Agressão sexual? Eu nunca disse que alguém me fez sofrer qualquer agressão sexual”, insistiu.
Questionada sobre o motivo de ter apagado a mensagem com a denúncia, ela respondeu “porque eu quis assim”.
A entrevista foi feita em chinês e traduzida para o inglês por uma autoridade olímpica chinesa durante a entrevista, segundo o jornal. As perguntas foram entregues antes da entrevista, e o jornal aceitou publicar as respostas de Peng sem qualquer comentário.
Durante a conversa, ela disse não saber da preocupação da comunidade internacional com sua segurança, como o uso das redes sociais de alguns dos maiores tenistas, como Serena Williams e Naomi Osaka, para divulgar a tag #WhereIsPengShuai (onde está Peng Shuai) já que não assiste noticiários estrangeiros e não lê em inglês.
Procurada nesta segunda-feira, a WTA não não comentou sobre as falas mais recentes da atleta.