Susana Samhan.
Cairo, 25 jan (EFE).- Os egípcios comemoraram nesta quarta-feira o primeiro aniversário da revolução que acabou com três décadas da ditadura de Hosni Mubarak na maior concentração em massa desde então na Praça Tahrir do Cairo, que viveu uma catarse de patriotismo com espaço para reivindicações.
Todos os caminhos nesta quarta-feira levavam a Tahrir, epicentro da Revolução de 25 de Janeiro, onde sob um sol radiante confluíram várias passeatas de milhares de pessoas organizadas por diferentes grupos de jovens e revolucionários para pedir que a Junta Militar que governa o Egito atualmente transfira o poder de forma imediata.
Em comunicado, a cúpula militar confirmou que abandonará o poder em 30 de junho, dia em que os militares retornarão a seus quartéis para se dedicar somente a ‘defender a terra, o céu e o mar do Egito’.
Na praça, que foi tingida de vermelho, branco e negro, as cores da bandeira egípcia, o ambiente era festivo, com canções nacionalistas e muitas famílias que aproveitavam o dia livre, já que foi declarado feriado nacional, para se aproximar de Tahrir com seus filhos.
Apesar de as pessoas consultadas pela Agência Efe destacarem a importância de celebrar o aniversário da revolução, todas afirmaram que tinham comparecido nesta quarta-feira na emblemática praça para exigir que se cumpram os objetivos da revolução, embora essas metas mudem de acordo com diferentes opiniões.
A presença islamita era grande com numerosos seguidores da Irmandade Muçulmana com bandeiras de sua formação política, o Partido Liberdade e Justiça, que estavam em Tahrir para defender os direitos das vítimas da revolução.
Uma dessas vítimas é Osama Moghazios, que perdeu a mão direita após receber o impacto de uma bala de borracha disparada pela Polícia no dia 28 de janeiro em Alexandria, no litoral mediterrâneo. Moghazios acampou na praça, da qual afirma que não sairá até receber uma indenização das autoridades.
‘Eu fui o primeiro ferido em Alexandria. Estava em uma manifestação e a Polícia abriu fogo contra nós’, disse Moghazios, enquanto mostrava uma imagem pendurada em uma das tendas de campanha instaladas no centro de Tahrir do momento quando ele foi ferido. No chão, Moghazios mostrava sobre uma manta a roupa ensanguentada que usava nesse dia.
Na praça não se congregaram apenas as vítimas e os islamitas, mas também egípcios de distintas tendências para pedir a renúncia imediata do Conselho Supremo das Forças Armadas.
De vários bairros e outros pontos do Cairo chegaram milhares de pessoas em várias manifestações, nas quais os pedidos mais escutados foram contrários aos militares e a seu chefe supremo, o marechal Hussein Tantawi.
Os manifestantes, de todas as idades, simularam um funeral dos ‘mártires’ com caixões de papelão que levavam suas fotografias.
Em algumas dessas manifestações, a presença de mulheres, tanto cristãs quanto muçulmanas, com ou sem véu, era grande e muitas levantavam a voz gritando palavras de ordem, que eram seguidas pelo resto, através de alto-falantes.
Com a ausência total das forças da ordem na praça, cujos acessos foram controlados por grupos de voluntários, a presença policial era arrasadora nas ruas divisórias aos edifícios governamentais do centro da cidade, como o Ministério do Interior, símbolo da repressão das autoridades.
Por enquanto, o dia transcorre sem incidentes em Tahrir, embora o número de tendas na praça tenha aumentado e muitos manifestantes dizem que não vão sair, como Mohammed Atif, que está ali desde os distúrbios de novembro.
‘Há mais tendas de campanha e mais manifestantes que vieram de distintas províncias do país. Aqui não há partidos políticos nem discórdia. Nosso objetivo é o mesmo: a entrega do poder a uma autoridade civil’, afirmou.
Apesar da tranquilidade em Tahrir, uma manifestação de apoio aos militares foi atacada no bairro de Abassiya, segundo fontes da segurança, por supostos capangas com facas, pedaços de madeira e coquetéis molotov, embora não tenham sido registrados feridos. EFE