Situação na usina de Fukushima se deteriora nesta quarta
Governo evacua os últimos trabalhadores de usina, que sofre uma liberação de radiação depois de colapso em sistema de segurança; imperador pede calma
O vaso de contenção do reator 3 da usina de Fukushima sofreu sérios danos na manhã desta quarta-feira (horário local), de acordo com informações oficiais do governo japonês. O porta-voz Yukio Edano declarou que a ruptura desse vaso pode ter sido responsável pela elevação dos níveis de radiação na zona da usina nesta quarta-feira, o que obrigou a Tepco, empresa que controla Fukushima 1, a evacuar os 50 trabalhadores que tentam resfriar os reatores e evitar uma tragédia nuclear.
Ainda de acordo com Edano, o governo aguarda uma redução nos níveis de radiação para retomar os trabalhos de resfriamento da usina. Na tarde desta quartta-feira, uma tentativa de resfriar os reatores com a ajuda de helicópteros fracassou por causa justamente da alta radiação ainda presente no local. Outro dado preocupante é o colapso do sistem Speedi, que informa aos engenheiros da usina a quantidade de partículas radioativas que podem ser liberadas e qual padrão elas devem seguir, caso efetivamente escapem para a atmosfera. É um poderoso recurso que o Japão perde na tentativa de ao menos minorar uma possível liberação mais robusta de radiação.
Derretimento – Logo pela manhã desta quarta-feira, as varetas de combustível nuclear dos reatores 1 e 2 da usina nuclear japonesa de Fukushuma Daiichi foram parcialmente danificadas. A avaria no reator 1 foi de 70%, e no 2, de 33%. O núcleo dos reatores parece ter derretido parcialmente após a perda das funções de resfriamento, ocorridas após o terremoto de magnitude 9 seguido de tsunami que atingiu a costa no dia 11. Mais cedo, o diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (AIEA), Yukiya Amano, havia dito que um dano limitado poderia ter ocorrido no núcleo do reator 2 da usina nuclear de Fukushima. Em entrevista coletiva, ele afirmou que as notícias são preocupantes, e que existe “a possibilidade de danos ao núcleo” depois da explosão no reator 2.
As consequências do problema com o sistema de resfriamento dos reatores já preocupavam especialistas e autoridades. O sistema parou de funcionar por causa da falta de energia elétrica, que se seguiu ao terremoto, e da subsequente exaustão dos geradores de apoio, necessários para dar energia às bombas que levam a água do mar até o sistema de resfriamento. Com o sistema avariado, a água chega muito devagar aos reatores e ferve rápido demais. O temor era que justamente a temperatura elevada derretesse as as varetas de combustível, que isolam o urânio (o combustível nuclear).
Agora, o risco é que as barras de controle, o vaso de controle (que abriga as varetas e as barras de controle) e ainda a contenção (que abriga o vaso de controle) sejam danificados pelo derretimento do urânio. A situação é considerada grave porque há risco de vazamento do material radioativo. Além disso, o derretimento faz com que o núcleo do reator fique instável podendo ocorrer explosões – elas ocorrem porque o calor faz a água evaporar e no processo sobra hidrogênio, que é altamente inflamável. No limite, o interior do vaso de controle transforma-se em uma bomba.
Imperador – Em pronunciamento na TV pública, o imperador Akihito pediu calma à população. Manifestou profunda preocupação com a situação na usina de Fukushima e disse rezar para que o cenário não piore. “Um terremoto de 9 graus nunca tinha ocorrido no Japão. Não sabemos ainda o número de vítimas, mas rezo para que se salve o maior número possível”, disse o ocupante do Trono do Crisântemo, a dinastia reinante mais antiga do mundo.
Akihito também incentivou o povo japonês a não se dar por vencido neste momento de crise, ao mesmo tempo em que agradeceu pelas várias mostras de solidariedade chegadas de todo o mundo e exortou seus compatriotas a manterem a calma.