O governo sírio aceitou formalmente nesta segunda-feira, depois de várias semanas de indecisão, a chegada de observadores árabes ao país, em um dos dias mais sangrentos desde o início da repressão, com cerca de 100 mortos.
O vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Faisal al Maqdad, assinou, no Cairo, um documento autorizando observadores, de acordo com um plano de saída da crise elaborado pela Liga Árabe que Damasco já havia aceitado “sem reservas” mas havia se negado a aplicar.
Em Damasco, o chanceler Walid Mualem garantiu, em uma coletiva de imprensa, que os observadores árabes seriam bem-vindos na Síria.
“A assinatura do protocolo (sobre a viagem dos observadores) é o início de uma cooperação entre nós e a Liga Árabe. Receberemos com satisfação a delegação dos observadores”, acrescentou dizendo que “este entendimento será renovado em um mês, se as duas partes estiverem de acordo”.
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al Arabi, anunciou que uma primeira delegação chegaria a Damasco nos próximos três dias.
Dirigida por Samir Seif al Yazal, assistente do secretário-geral, a delegação será composta “por observadores da segurança, do direito e da administração”, disse Arabi, que detalhou que as equipes incluirão também especialistas em direitos humanos.
Burhan Ghaliun, chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS), que agrupa a maioria das correntes opositoras, considerou, em uma coletiva de imprensa na Tunísia, que as declarações de Mualem são “uma armadilha para cobrir o fracasso do regime sírio”.
Os relatórios dos observadores “serão enviados ao secretário-geral da Liga Árabe e a mim”, disse o chefe da diplomacia síria.
Os observadores árabes “poderão ter acesso às áreas mais ‘quentes’, mas não a pontos militares sensíveis”.
A repressão prossegue firme no país e segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), entre 60 e 70 desertores morreram metralhados quando tentavam fugir de quartéis nas localidades de Kansafra e Kafr Awid.
Os sangrentos confrontos entre o Exército e os desertores têm se multiplicado nas últimas semanas, especialmente em Idleb, Homs e Deraa, cidades onde a revolta contra o regime de Bashar al Assad é mais intensa.
O OSDH também informou a morte de 40 civis, em confrontos nas cidades de Deraa, Deir Ezzor, Idleb e Damasco.
Na capital, as tropas governamentais abriram fogo contra manifestantes no bairro histórico de Midan, segundo o OSDH e os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que organizaram as manifestações no terreno.
De acordo com as Nações Unidas, a repressão no país já deixou um saldo de uns 5 mil mortos desde meados de março, apesar de o governo atribuir a violência a grupos terroristas.
A Liga Árabe tinha ameaçado a recorrer ao Conselho de Segurança da ONU ou à Rússia, um velho aliado da Síria e que recentemente bloqueou as resoluções de condenação ao regime de Damasco.
Na quinta-feira, a Rússia surpreendeu ao propor sua própria resolução de condenação da violência cometida “por todas as partes”.
“Não há mudança na posição russa. Existe uma coordenação cotidiana com os (dirigentes) russos. Eles aconselharam a Síria a assinar o protocolo e nós fizemos isso”, disse o ministro.