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Síndrome de MacArthur

Por La Vanguardia
24 jun 2010, 21h23

Poderia se chamar “síndrome de MacArthur”: o temor, nos Estados Unidos, de que os militares, as forças armadas mais poderosas do mundo, cruzem a linha e desafiem o poder civil.

Cada vez que se produzem rusgas entre civis e militares, ressurge o antecedente de Douglas MacArthur, que desafiou o presidente Harry Truman durante a guerra da Coreia. Em 1951, Truman demitiu MacArthur, o heroi da Segunda Guerra Mundial que defendia ampliar a guerra na península coreana e atacar a China, estratégia que a Casa Branca não queria seguir. Foi acusado de insubordinação.

“Se existe um elemento básico em nossa Constituição é o controle civil sobre as forças armadas. Se tivesse permitido a ele desafiar as autoridades civis dessa maneira, eu mesmo estaria violando meu juramento de cumprir e defender a Constituição”, escreveu Truman. Desde então, militares e civis assumiram que a atitude de MacArthur – fazer política por conta própria, contradizendo ao presidente e comandante em chefe – é o exemplo do que não deve ser feito. Ao mínimo gesto de insubordinação ou indisciplina, o alarme dispara.

Agora o alarme voltou a soar, depois da publicação de uma reportagem na qual o general Stanley McChrystal, até ontem comandante dos Estados Unidos e da OTAN no Afeganistão, e seus colaboradores zombavam do presidente Barack Obama e sua equipe de segurança nacional.

Obama parafraseou a Truman para justificar a demissão de McChrystal com o argumento de que suas palavras na revista Rolling Stone “minavam o controle civil das forças armadas, que se encontra no núcleo de nosso sistema democrático”.

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“Ninguém nas forças armadas americanas crê hoje que demitir MacArthur não tenha sido a decisão correta”, disse o historiador militar Richard Kohn, que previne contra as comparações históricas. “Não é um exemplo útil nem relevante. O general McChrystal não tentou minar a política, e que eu saiba ninguém tenta fazer isso por baixo dos panos ou de propósito.”

Como escreveu Truman, nos Estados Unidos a submissão dos militares ao poder civil está arraigada. Nunca houve golpes de estado na história do país. Kohn, professor da Universidade da Carolina do Norte, acredita que esta tradição vem da Grã-Bretanha, onde depois do golpe de Cromwell, no século 17, “o controle civil dos militares se converteu em princípio fundamental do governo britânico e isso migrou para as colônias”. “A partir do século 19, o controle das forças armadas se converteu em um problema administrativo. Nunca foi uma relação fácil. Sempre houve tensão e conflito”, completa.

Casos como o de MacArthur, no qual os militares esticaram a corda abertamente contra as autoridades civis são raros. O professor Kohn cita a chamada conspiração de Newburgh, em 1783, quando se produziu uma tentativa de motim e ataque ao governo por reivindicações salariais dos soldados. Dóris Kearns Goodwin, a historiadora de cabeceira de Obama, recordava ontem no New York Times o caso, durante a Guerra Civil, do general George McClellan, demitido por Abraham Lincoln.

O problema agora, segundo Kohn, é que, ainda que os militares “entendam a questão do controle civil, não entendem como ele funciona, como pode se comprovar com a poeira que a pequena crise com McChrystal levantou”. “Foi um erro muito trágico de sua parte: pelo que ele disse e suas atitudes e, o que é ainda pior, pelas atitudes de sua equipe, uma cultura de desprezo e arrogância em relação aos civis e ao governo”, disse Kohn. “E isso é preocupante nos militares americanos. Em muitos de seus pontos de vista, ele e sua equipe não são uma exceção.”

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