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Setores e aliados de Trump se rebelam contra suas decisões

Empresários, ex-agentes da CIA e funcionários da área ambiental resistem a medidas da Casa Branca

Por Denise Chrispim Marin, Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 ago 2018, 19h18 - Publicado em 21 ago 2018, 17h14

Iniciativas polêmicas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não têm sido recebidas com um “amém” por setores organizados do país e de seu governo – nem mesmo entre os que apoiaram sua eleição e continuam a respaldar sua gestão.

A Agência de Proteção ao Meio Ambiente (EPA) e ex-diretores e agentes da CIA confrontam-se neste momento com decisões recentes do presidente. Representantes de quase 400 indústrias do país tentam desesperadamente, nesta semana, parar a guerra comercial iniciada por Trump contra a China e, se possível, suspender as barreiras levantadas nos últimos meses.

Há dois meses, não fosse a pressão da base republicana no Congresso, a Casa Branca teria continuado com a sua política de tolerância zero contra a imigração ilegal. Em claro recuo, Trump foi forçado a assinar um decreto presidencial em 20 de junho para acabar com a separação de crianças e adultos pegos na fronteira Sul e a reunificar as famílias separadas.

A escalada da guerra comercial contra a China promovida por Trump sob argumento de resgatar o setor manufatureiro do país está sob questionamento do próprio empresariado. Quase 400 companhias americanas participam entre hoje e quinta-feira de audiências na Representação dos Estados Unidos para o Comércio (USTR) para pedir ao governo que não leve adiante sua iniciativa de aplicar tarifas de importação adicionais de até 25% a produtos chineses cujos desembarques no país totalizam 200 bilhões de dólares ao ano.

As companhias alegam, segundo o jornal The New York Times, que os Estados Unidos não têm mais condições de produzir uma gama imensa de materiais necessários para o setor manufatureiro e que a importação deles é essencial. Nas últimas décadas, as empresas se embrenharam em cadeias globais de produção que, uma vez rompidas, trará prejuízos na ponta – ou seja, nas fábricas americanas. Grande parte dessas cadeias envolvem a produção de insumos na China.

Os empresários reunidos no USTR para dar seus depoimentos argumentam que a ausência de insumos vindos da China poderá prejudicar suas linhas de montagem e até mesmo causar demissões. Se a importação for mantida, mesmo com as tarifas adicionais, o repasse desse aumento de custos para os preços finais dos produtos será inevitável.

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Jennifer Harned, presidente da Bell Sports, que emprega 500 pessoas, teme que as vendas de seus capacetes para ciclistas e skatistas caiam, e os consumidores prefiram marcas mais baratas e menos comprometidas com os requisitos elementares de segurança. Um acidente, nesse caso, poderia tornar-se mais grave.

“A China continua a ser vital e não seu vínculo com a nossa cadeia de fornecedores não pode ser substituído facilmente”, afirmou Tom Cove, da Associação da Indústria de Esportes. “Exportar manufaturas não é viável em tempo real ou em escala”.

Na semana passada, Trump revogou a credencial de segurança de John Brennan, diretor da CIA no governo Obama. A medida foi imensamente criticada por muitos setores do governo americano. Um grupo de 170 ex-diretores de agências de inteligência, oficiais e funcionários assinaram uma nota se opondo à decisão.

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Entre as autoridades “rebeldes” estão ex-chefes da CIA nomeados por presidentes republicanos e democratas, como Robert Gates, George Tenet, Porter Goss, Leon Panetta e David Petraeus.

No comunicado, os oficiais descrevem a medida de Trump como “inadequada e profundamente lamentável”. Eles insistem que “nunca antes havíamos visto a aprovação ou a eliminação de autorizações de segurança utilizadas como ferramenta política, como foi feito neste caso”.

O republicano admitiu em entrevista ao The Wall Street Journal que a sua decisão de revogar a credencial de Brennan deveu-se à postura crítica dele e aos seus comentários sobre as ligações de sua equipe de campanha eleitoral com a Rússia – tema que continua em investigação federal.

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Mudança climática

Com o objetivo de desfazer todos os avanços em termos de proteção ambiental adotados por seu antecessor, Barack Obama, Trump anunciou nesta terça-feira uma nova proposta desenvolvida pela Agência de Proteção Ambiental (EPA) para as regras nacionais sobre emissões de poluentes para a indústria termoelétrica. Em seu relatório, porém, a própria EPA reconhece que o relaxamento das medidas de proteção levaria a um aumento considerável das emissões de dióxido de carbono e outros poluentes, em prejuízo à saúde humana.

Com as novas regras, até 2030, os Estados Unidos podem registrar entre 470 e 1.400 mortes prematuras causadas pelo aumento de partículas nocivas no ar. As mortes podem estar relacionadas a doenças cardíacas e pulmonares. A proposta divulgada pela EPA está agora aberta para comentários do público. A decisão final deve ser publicada ainda este ano.

O plano anterior da EPA fora implementado pelo governo Obama e previa limitações para as empresas que usam a queima de carvão como fonte de energia. Tinha como objetivo reduzir em 32% as emissões de usinas de energia até 2030, com base em dados de 2005.

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A Suprema Corte suspendeu o plano em 2016, depois que Estados produtores de energia processaram a EPA, dizendo que a agência havia ultrapassado seu escopo legal. O novo projeto de Trump, contudo, permitiria aos Estados elaborar suas próprias regulações menos rígidas para indústrias e pedir permissão para não cumprirem as regulações sobre emissões de usinas de energia.

A iniciativa da Casa Branca, nesse caso, está em linha com suas ações anteriores de favorecer o setor de energia não-renovável. Em junho de 2017, Trump anunciou a retirada do governo dos Estados Unidos do Acordo de Paris. Ele argumentou que o pacto tratava o seu país de maneira muito injusta ao impor “grandes sanções” pela utilização de valiosos recursos disponíveis no território americano, como gás, carvão e petróleo.

A decisão foi muito criticada, já que o acordo tinha como objetivo limitar as emissões de dióxido de carbono e, dessa forma, tentar restringir a escalada da temperatura média do planeta nas próximas décadas. Em Paris, os Estados Unidos haviam se comprometido a reduzir suas emissões em 26% a 28% dos níveis de 2005 até 2025. Para Trump, porém, aquecimento global é “uma farsa”.

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