A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA) confirmou nesta quinta-feira, 31, que o corte no financiamento forçará o encerramento das operações no Oriente Médio, incluindo na Faixa de Gaza, até o final deste mês. Nos últimos dias, a instituição tem sido alvo de bloqueios de doações pelo suposto envolvimento de 12 funcionários no ataque-surpresa do grupo palestino radical Hamas contra Israel, em 7 de outubro. Nove foram demitidos, dois estão sendo investigados e um morreu. Cerca de 1.200 israelenses foram mortos na investida dos militantes.
“A agência continua a ser a maior organização de ajuda numa das crises humanitárias mais graves e complexas do mundo”, disse o diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini, em comunicado. “Se o financiamento continuar suspenso, muito provavelmente seremos forçados a encerrar as nossas operações até ao final de Fevereiro, não só em Gaza, mas também em toda a região.”
Em meio às acusações, uma gama expressiva de países suspendeu os investimentos à principal agência de atendimento a palestinos. Entre eles estão Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão e Áustria. Outras nações, como Espanha e Noruega, não interromperam o afluente de dinheiro. Por sua vez, a Comissão Europeia, órgão executivo da União Europeia (UE), aguarda os resultados da investigações para iniciar sua própria auditoria sobre o episódio. Juntos, EUA e Alemanha representam 46% do montante geral recebido anualmente pela UNRWA.
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Críticas ao fim do apoio
Outras agências da ONU e grupos de direitos humanos apelaram para que os doadores não deixem de apoiar a agência. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, endossou o coro e alertou que o corte levará a “consequências catastróficas” para a população do enclave palestino. Em Genebra, ele defendeu que “nenhuma outra entidade tem a capacidade de fornecer a escala e amplitude da assistência que 2,2 milhões de pessoas em Gaza necessitam urgentemente” e pediu para que os “anúncios sejam reconsiderados”.
Sem previsão de retorno do auxílio, a entidade destinará o orçamento restante à educação, à gestão de clínicas de saúde e à ajuda para comprar alimentos e roupas a 5,9 milhões de migrantes. Até o momento, mais de 27 mil palestinos foram mortos na investida israelense, composta por operações por terra e por ar, como os bombardeios incessantes que atingem o local.
A UNRWA emprega cerca de 30 mil palestinos para atender necessidades humanitárias na Faixa de Gaza, Cisjordânia e campos de refugiados nos países árabes. A investigação contra os funcionários foi instaurada após a entrega de um dossiê de Israel às Nações Unidas. Os crimes supostamente cometidos incluem o rapto de uma mulher, a participação de massacre em um kibutz, o fornecimento de munição aos militantes e prisão de reféns.
O escritório palestino, no entanto, está na mira de Tel Aviv há anos, a partir de acusações de que estimula o ódio em escolas e incentiva o conflito no Oriente Médio, além de manter relações com o Hamas. Na quarta-feira, o premiê israelense, Benjamin Netanyahu, instou o fim da UNRWA e a sua substituição, ou não, por outra agência da ONU.