Relatório sobre festas aponta ‘falha de liderança’ de Boris Johnson
Documento é conclusão de investigação administrativa sobre eventos na residência oficial durante lockdown no país; Caso ainda é investigado criminalmente
O governo do Reino Unido divulgou nesta segunda-feira, 31, o relatório decorrente da investigação interna sobre festas e eventos realizados em Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro Boris Johnson, durante o período de restrições mais duras contra o avanço do coronavírus.
O documento de 12 páginas, feito sob comando da servidora pública Sue Gray, aponta “falhas de liderança e julgamento” por membros do governo ao permitirem os eventos enquanto o país estava sob restrições, além de consumo pesado de álcool dentro da sede do governo.
“Houve falhas de liderança e julgamento por diferentes partes de Downing Street e dos gabinetes em momentos diferentes. Alguns dos eventos não deveriam ter acontecido e outros não deveriam ter ocorrido da maneira como ocorreram”, destaca o relatório.
Junto a uma equipe do gabinete, que não teve envolvimento com os eventos controversos, Gray investigou 16 confraternizações diferentes realizadas em 12 dias, incluindo uma no aniversário de Johnson. Ao todo, mais de 70 pessoas foram ouvidas para entender o teor das reuniões.
No entanto, os detalhes de todos os eventos não foram incluídos no relatório, em parte devido a uma investigação realizada pela polícia de Londres que limitou o processo da funcionária pública. Segundo Gray, sua investigação não teve objetivo de julgar se a lei penal foi violada, servindo apenas para entender o caso, e não gerar conclusões.
“Pelo menos algumas das reuniões em questão representam uma falha grave em observar não apenas os altos padrões esperados daqueles que trabalham no coração do governo, mas também os padrões esperados de toda a população britânica na época”, diz o documento.
Ela acrescentou ainda que “o consumo excessivo de álcool não é apropriado em um local de trabalho profissional”.
“No cenário da pandemia, quando o governo pedia aos cidadãos que aceitassem restrições de longo alcance em suas vidas, alguns dos comportamentos em torno dessas reuniões são difíceis de justificar”, acrescenta o texto.
Agora, o texto deve ser alvo de intenso escrutínio de parlamentares conservadores, muitos dispostos a se juntar a rebeldes que já tentam forçar uma moção de censura contra Boris. Porém, os elementos mais prejudiciais para ele devem ser divulgados apenas após a conclusão da investigação policial, que ainda deve demorar semanas ou meses.
O tempo até o fim da investigação policial pode dar uma sobrevida ao governo de Johnson, sob intensa pressão. Há duas semanas, em mais um duro golpe, o premiê foi acusado por um ex-conselheiro de ter mentido ao Parlamento durante depoimento. Segundo Dominic Cummings, Johnson teria faltado com a verdade quando disse que uma das festas que participou se tratava, na verdade, de uma reunião de trabalho.
Cummings disse estar disposto a falar sob juramento que o primeiro-ministro foi alertado que a festa em maio de 2020 para funcionários da residência oficial quebrariam as restrições contra o coronavírus. Segundo ele, há outras testemunhas que podem provar a afirmação, sem especificar quem seriam.
Johnson, por sua vez, nega ter sido alertado. Ao Parlamento, ele disse que participou da festa, mas que considerou um encontro de trabalho que não seguiu devidamente as regras. “Quando entrei naquele jardim pouco depois das seis horas em 20 de maio de 2020 para agradecer a um grupo de funcionários por 25 minutos, acreditei implicitamente que era um evento de trabalho. Em retrospectiva, entendo que deveria ter mandado todos de volta para dentro”, completou.