Com uma vantagem de mais de 15 pontos em relação ao segundo lugar e mais força do que previsto nas pesquisas, Santiago Peña, de 44 anos, foi eleito no domingo, 30, presidente do Paraguai, marcando mais um passo para a hegemonia do Partido Colorado, apesar de acusações de corrupção. A sigla comanda o país há mais de 70 anos, com exceção do intervalo do governo de Fernando Lugo, eleito em 2008 e destituído em 2012.
Com mais de 99% das urnas apuradas, o conservador ficou com a primeira posição com 42,74% dos votos, contra Efraín Alegre, que com uma coligação de centro-esquerda obteve 27,49%. Em terceiro lugar ficou Payo Cubas, ex-legislador anti-establishment de direita, com 22,92%.
Com a decisão nas urnas, Peña será sucessor do colega de sigla Mario Abdo Benítez, que disse que trabalhará para uma transição tranquila e frutífera. Empossado, Peña terá como principais desafios uma estagnação econômica que atinge todo o país, além de níveis crescentes de violência.
“Hoje não estamos comemorando um triunfo pessoal, mas a vitória de um povo que escolheu o caminho da paz social”, disse Peña em seu primeiro discurso como presidente eleito. “A tarefa que nos espera não é de uma só pessoa ou partido, devemos apelar à unidade e ao consenso. Chegou a hora de deixar as divisões”.
Pais aos 17 e economista do FMI
Pai com apenas 17 anos e casado desde os 19 com Leticia Ocampo, mãe de seus dois filhos de 26 e 17 anos, Peña começou a desenvolver sua carreira profissional ainda muito jovem. Formado pela Universidad Católica Nuestra Señora de Asunción, ingressou como estudante no Banco Central do Paraguai (BCP), onde atuou como economista.
Depois de estudar Políticas Públicas na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, e deixar o BC paraguaio, se mudou para os Estados Unidos para atuar no departamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) voltado à África.
Ele voltou ao Paraguai como diretor do Banco Central Paraguaio, cargo do qual renunciou depois que o então presidente Horacio Cartes propôs que ele se tornasse seu ministro da Fazenda, entre 2013 e 2018. “Aos 35 anos, tornei-me ministro da Fazenda, chefe da equipe econômica, presidente do conselho de empresas públicas”, lembrou Peña em entrevista à agência de notícias EFE.
Mas o desafio mais difícil de Peña é justamente sua proximidade com Horacio Cartes, sancionado pelo governo dos Estados Unidos por acusações de ter “um padrão coordenado de corrupção”, alegando que ele pagou aos legisladores até US$ 50.000 por mês durante sua presidência e conduziu alguns de seus negócios ilícitos em eventos organizados pelo Hezbollah.
“Peña é uma pessoa que se apresenta como um tecnocrata, um especialista em economia de alto nível. A questão é se isso pode compensar a falta de capital político”, disse Magdalena López, da Universidade de Buenos Aires, à rede BBC.
A entrada na política de fato se concretizou em 2017, quando registrou seu interesse de se candidatar à Presidência pelo Partido Colorado, com apoio do movimento interno Honor Colorado, liderado por Cartes.
“Em uma conversa com o presidente Horacio Cartes, ele me perguntou: ‘Olha, ministro, são cinco candidatos, você é um desses cinco candidatos. Se você estiver disposto a tentar, acho que valeria a pena. E eu aceitei o desafio”, disse.
Embora tenha perdido para Abdo Benítez nas internas partidárias, Peña saiu com força e mostrou, o que se concretizou no domingo, que poderia ser o novo rosto do partido para o público.