Em meio a uma série de derrotas humilhantes constantes na guerra da Ucrânia que tem levado a duras críticas de nacionalistas pró-guerra e membros de grupos conservadores, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, deu mais um passo para tentar mudar o curso do confronto. Sergei Surovikin, conhecido como o “general do Armagedom”, foi nomeado como primeiro comandante geral do conflito em território ucraniano no último sábado, 8, e em menos de 48 horas, já foi responsável por um dos maiores bombardeios russos desde o início da guerra.
Nesta segunda-feira, 10, a Ucrânia foi alvo de um grande ataque de mísseis a locais civis, que incluiu uma rodovia próxima a uma universidade e um parque infantil.
+ Após explosão de ponte na Crimeia, Rússia retalia com chuva de mísseis
“Não estou surpreso ao ver o que aconteceu esta manhã em Kiev. Surovikin é absolutamente implacável, com pouca consideração pela vida humana. Temo que suas mãos fiquem completamente cobertas de sangue ucraniano”, disse um ex-funcionário do Ministério da Defesa russo, que trabalhou com o militar, ao The Guardian.
Surovikin ganhou notoriedade pela primeira vez durante a tentativa de golpe de estado lançada por radicais soviéticos em 1991, quando liderou uma divisão de fuzileiros que atravessou barricadas erguidas por manifestantes pró-democracia. Três homens foram mortos no confronto, incluindo um que foi esmagado.
+ Guerra na Ucrânia: explosão derruba parte da ‘Ponte de Putin’ na Crimeia
Sua reputação cresceu em 2004, quando a mídia russa informou que um coronel sob seu comando havia se matado depois de receber uma repreensão acalorada de Surovikin. Desde então, seus colegas deram a ele o apelido de “General do Armagedom” por sua abordagem linha-dura e pouco ortodoxa de travar a guerra.
Ele também ganhou destaque por sua atuação na Síria ao realizar inúmeros ataques aéreos e terrestres a objetos e infraestruturas civis. De acordo com relatório de 2020 da Human Rights Watch, as forças russas sob seu comando atacaram “casas, escolas, instalações de saúde e mercados sírios em nome da defesa dos interesses de Moscou”. Ainda segundo o documento, o foco dos ataques eram locais onde as pessoas vivem, estudam e trabalham.
De acordo com especialistas, o principal desafio de Surovikin na Ucrânia será resolver os problemas estruturais que assolam os militares russos, que enfrentam uma feroz contra-ofensiva ucraniana. Apesar de ser cruel, ele não terá um pelotão tão grande em mãos e irá precisar lidar com a baixa moral que afeta as tropas.
+ Belarus e Rússia planejam ataque conjunto contra ‘ameaça’ da Ucrânia
Ainda que não dê resultados imediatos, a sua nomeação já é suficiente para amenizar as críticas de grupos nacionalistas e pró-guerra que exigiam de Putin medidas mais duras. Além de sua reputação, Surovikin tem um bom relacionamento com a empresa paramilitar Wagner, que atua no território ucraniano.
“Agora, estou 100% satisfeito com a operação”, escreveu o líder checheno, Ramzan Kadyrov em seu canal do Telegram, referindo-se ao bombardeio de Kyiv, onde pelo menos seis civis foram mortos. Ele chegou a sugerir que o Kremlin deveria usar bombas nucleares táticas após a perda da cidade de Lyman, em Donetsk.