O Partido Conservador do Reino Unido anunciou nesta segunda-feira, 5, que Liz Truss será a nova primeira-ministra do país após vencer a corrida eleitoral contra o ex-ministro do Tesouro, Rishi Sunak. Ela irá suceder Boris Johnson, que renunciou em julho após uma série de polêmicas e pedidos de saída em seu gabinete.
Apesar de ser considerada atualmente uma conservadora forte, a nova premiê também é vista um camaleão político, que passou de uma radical que clamava pela abolição da monarquia a uma porta-bandeira da ala conservadora britânica e ferrenha crítica à União Europeia.
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Truss chegou ao Parlamento em 2010 e em um período relativamente recente se mostrou uma política que defende de maneira implacável sua agenda. No entanto, a série de mudanças de pensamentos ao longo de sua breve carreira levanta dúvidas se ela realmente tem alguma crença ou se endossa o que for mais conveniente no momento.
A nova premiê nasceu em 1975 em uma família descrita por ela como “à esquerda do Partido Trabalhista”, principal partido de esquerda do Reino Unido, e cresceu em uma região que tradicionalmente não vota nos conservadores.
Durante sua carreira acadêmica, Truss conseguiu uma vaga na Universidade de Oxford, onde se tornou membro ativo dos Liberais Democratas, um partido de oposição centrista que tem sido um oponente efetivo dos conservadores em grande parte do território britânico.
Enquanto fazia parte dos liberais, ela foi a favor da legalização da cannabis e da abolição da família real, pautas que estão completamente desalinhadas com os ideais conservadores de 2022. Em 1996, a política se juntou aos conservadores e continuou a chamar a atenção de seu público.
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Desde que se juntou aos conservadores e se tornou legisladora, ela serviu lealmente sob três primeiros-ministros em vários cargos diferentes no gabinete, mais recentemente como secretária de Relações Exteriores durante o governo de Boris Johnson.
Uma das controvérsias mais notáveis da nova primeira-ministra diz respeito ao Brexit. Em 2016, ela apoiou a permanência do Reino Unido na União Europeia argumentando que “era do interesse econômico do país”. Mais tarde, no entanto, ela se tornou uma grande defensora do Brexit, dizendo que seus temores antes do referendo estavam errados.
Recentemente, ela chegou a se recusar a chamar o presidente francês, Emmanuel Macron, de aliado, dizendo que o “júri estava fora” quando perguntada se ele era amigo ou inimigo. Apesar das falas, há um debate dentro do Partido Conservador de que sua posição contrária à União Europeia se dá apenas para seguir as ordens do governo.
Quanto mais Truss aproximava do poder, mais os britânicos se perguntavam como seria sua liderança. Durante sua campanha, ela disse que iria liderar a mais conservadora das agendas, se comprometendo a reduzir impostos desde o primeiro dia, a romper as regulamentações da UE e a incentivar o crescimento do setor privado com impostos corporativos baixos. Ela disse ainda que não vai impor um imposto inesperado às empresas de energia, apesar de seus lucros enormes durante a atual crise de custo de vida e energia.
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Analistas apontam que essas medidas não necessariamente serão cumpridas e que seu governo deve se assemelhar ao de Boris Johnson, mas com um foco maior em cortar impostos, encolher o estado e, potencialmente, uma linha ainda mais dura na Europa.
De um jeito ou de outro, Truss terá a difícil missão de reunir o Partido Conservador, que está no poder há 12 anos, além de liderar o país em sua pior crise de custo de vida em décadas. A inflação está em alta em 40 anos, as contas de energia que já estão altas devem aumentar e o Reino Unido deverá entrar em recessão antes do final do ano.
Em julho, a inflação subiu acima de 10% pela primeira vez desde 1982, impulsionada em grande parte pelo aumento do custo de energia, alimentos e combustível e, de acordo com o Banco Nacional, ela chegará a 13% até o final do ano.
Neste inverno, muitas famílias terão que fazer uma escolha sombria entre aquecer suas casas e comer. E para um partido que está no poder há mais de uma década, é difícil transferir a culpa disso para outra pessoa.
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Seus apoiadores, no entanto, veem a chance de um novo começo em Truss. Eles acreditam que o partido voltará seu foco para permanecer no poder e vencer uma histórica quinta eleição geral consecutiva. No entanto, ela deve enfrentar problemas. Durante os estágios iniciais da competição, a nova líder teve o apoio de menos parlamentares do que Sunak.
E apesar de toda a sua determinação, ela assume um partido dilacerado por brigas internas e sofrimento nas pesquisas durante uma crise doméstica. Assim, ela pode achar seu objetivo principal – tornar seu partido elegível na próxima eleição geral depois de tantos anos no poder – uma tarefa muito difícil de alcançar.