Putin: ‘Crimeia sempre foi parte da Rússia’
Presidente russo e políticos crimeanos fecham acordo de anexação da região à Rússia. Putin disse que não pretende incorporar outras regiões da Ucrânia
O presidente russo Vladimir Putin assinou nesta terça-feira, junto com políticos pró-russos da Crimeia, um acordo para a incorporação da península do sul da Ucrânia à Rússia, com efeitos imediatos. “A República da Crimeia se considera parte da Federação Russa a partir da assinatura do acordo”, afirmou comunicado do Kremlin. A assinatura ignora advertências contrárias à anexação feitas pelos Estados Unidos e a Europa e acontece apenas horas depois da imposição de sanções contra russos e ucranianos. “A Crimeia sempre foi parte da Rússia nos corações e mentes das pessoas”, declarou Putin em um pronunciamento em Moscou. “Essa fé foi preservada e passada de geração a geração”, completou o presidente russo. Seu discurso fez referências ao passado de Moscou como líder da URSS, quando os russos detinham o controle de praticamente todo o leste europeu.
Putin falou no Salão de São Jorge, no palácio do Kremlin, diante de toda a elite política da Rússia, relata o The New York Times, incluindo os membros de ambas as casas do Parlamento e os governadores das principais regiões do país. Putin foi recebido com aplausos e disse que hoje se decide “uma questão de vital importância” para a Rússia. Ele se apoiou no resultado do referendo, assim como na história da Crimeia, para justificar suas medidas. “Na Crimeia estão os túmulos dos soldados russos, e a cidade de Sebastopol é a pátria da frota do Mar Negro”, afirmou.
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O presidente russo também disse que seu país não deseja incorporar outras regiões da Ucrânia e nem pretende dividir o país. “Quero que me escutem, queridos amigos. Não acreditem naqueles que os assustam com isso de que depois da Crimeia seguirão outras regiões. Rússia não procura dividir a Ucrânia. Não temos necessidade disso”, afirmou Putin. O presidente se referia às regiões no leste da Ucrânia, que tem maioria de população russa, que segundo Putin será defendida por “meios políticos e diplomáticos”.
Seu pronunciamento assertivo sobre a Crimeia vem logo depois de ele ter recomendado ao Parlamento preparar a legislação para iniciar o processo de anexação da região. O documento de Putin enviado ao Legislativo aprova “o projeto do Tratado entre a Federação Russa e a República da Crimeia sobre a incorporação da República da Crimeia à Federação Russa” – e trata-se do primeiro passo para formalizar a anexação. Para o jornal americano, os movimentos de Putin efetivamente derrubam os acordos que serviram como base para uma estabilidade entre Rússia e Ocidente após o fim da Guerra Fria, em 1991. “O Kremlin permanece impávido diante da pressão internacional e as sanções americanas e europeias contra figuras políticas proeminentes foram ridicularizadas e consideradas ineficazes”, diz o texto. (Continue lendo)
As sanções dos EUA congelam bens financeiros e proíbem onze políticos russos e ucranianos de viajar, incluindo dois dos principais assessores de Putin, Vladislov Surkov e Sergei Glazyev, e Valentina Matvienko, presidente do Conselho da Federação Russa, a câmara alta do Parlamento. A União Europeia (UE) aplicou sanções contra 21 pessoas de cidadanias russas e ucranianas.
O presidente russo reconheceu nesta segunda, por decreto, a região autônoma ucraniana da Crimeia como um “Estado soberano e independente, levando em conta a expressão da vontade do povo crimeano no referendo realizado em 16 de março de 2014″. Depois de 96,7% dos eleitores que participaram do referendo votarem pela unificação com a Rússia, o Parlamento da Crimeia aprovou uma resolução pela qual a república autônoma foi declarada independente da Ucrânia e pediu oficialmente sua incorporação à Rússia, país ao qual pertenceu até 1954, quando a União Soviética repassou o controle da região à Ucrânia.