Protestos contra tragédia em mina terminam em confrontos
Comitiva de premiê é apedrejada durante visita; número de mortos chega a 274
A tristeza pela morte de 274 trabalhadores em uma mina de carvão na cidade de Soma, oeste da Turquia, deu lugar à fúria manifestada em uma série de protestos nesta quarta-feira contra o governo do primeiro-ministro Recep Erdogan, que teria ignorado os alertas sobre a falta de segurança nas minas do país. O novo número de mortos já torna este o pior desastre em minas da história do país. Mais de cem trabalhadores ainda estariam desaparecidos, apesar de a esperança de encontrar sobreviventes ser cada vez menor. O ministro da Energia, Taner Yildiz, afirmou que a maioria dos trabalhadores morreu por intoxicação causada pela ingestão de monóxido de carbono. “Nossas esperanças estão diminuindo”, admitiu.
Milhares de manifestantes se aglomeraram em Istambul e na capital, Ancara. Houve confronto com a polícia, que usou canhões de água e gás lacrimogênio para conter os protestos. A própria comitiva de Erdogan foi alvo de pedras atiradas por manifestantes, enquanto o premiê visitava o local da tragédia. Em Ancara, os manifestantes pretendiam dirigir-se ao Parlamento antes de a marcha ser interrompida pela polícia. Em Istambul, houve manifestações nas imediações de escritórios da Soma Holdings, companhia proprietária da mina. Sindicatos anunciaram uma greve nesta quinta-feira e pediram aos cidadãos que mostrem seu apoio usando roupas ou bandeiras pretas.
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O premiê declarou três dias de luto nacional e cancelou compromissos de sua agenda para viajar ao local da tragédia. Também pediu uma minuciosa investigação sobre as causas do acidente. Em Soma, no entanto, ele foi confrontado por moradores que cercaram e chutaram o carro em que estava em meio a gritos de “assassino” e “ladrão”. Em uma declaração desastrada, o premiê voltou na história para citar acidentes anteriores e dizer que “essas coisas acontecem”: “Deixem-me voltar ao passado da Inglaterra. Em um desabamento em 1862, 204 pessoas morreram, em 1866, 361 morreram, e em uma explosão na Inglaterra em 1894, 290 morreram. Então, por favor, não vamos dizer que essas coisas nunca aconteceram em outros lugares em minas de carvão. Essas coisas acontecem. Temos uma coisa chamada acidente de trabalho”, afirmou, segundo declarações reproduzidas pelo Guardian.
O primeiro-ministro disse ainda que alguns grupos querem se aproveitar politicamente da tragédia. “Eu gostaria de reiterar que para manter a paz e a unidade da nossa nação é muito, muito importante, que não prestemos atenção a eles”. Os donos da mina onde a explosão ocorreu mantêm ligações com o governista Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).
De acordo com a Anistia Internacional, a tragédia na Turquia poderia ter sido evitada. No ano passado, partidos de oposição tentaram aprovar uma proposta para investigar acidentes nas minas de Soma. A proposta acabou sendo rejeitada há duas semanas graças à falta de apoio do AKP. “A longa história de mortes em minas na Turquia levanta questões sobre a segurança dos trabalhadores. O fato de o governo ter rejeitado pedidos recentes de parlamentares para investigar acidentes de trabalho é chocante. Eles estão brincando com a vida das pessoas”, disse Andrew Gardner, pesquisador da ONG para a Turquia.
(Com agências EFE, France-Presse e Estadão Conteúdo)