Presidente da Turquia critica sermão do papa sobre genocídio armênio
Recep Tayyip Erdogan advertiu o pontífice sobre as declarações referentes a massacre armênio: “Espero que não volte a cometer um erro desse tipo”
O presidente turco Recep Tayyip Erdogan fez duras críticas ao papa Francisco e chegou a adverti-lo em declarações reproduzidas nesta terça-feira. Erdogan disse que condenava o pontífice por ter descrito o massacre de 1,5 de armênios como “o primeiro genocídio do século XX”. Francisco se pronunciou desta forma durante uma missa que marcou o centésimo aniversário do conflito, no último domingo. “Quero lhe dar um aviso. Espero que ele não volte a cometer um erro desse tipo”, disse o mandatário, em discurso feito à Associação de Exportadores da Turquia.
Segundo a rede britânica BBC, Erdogan disse que seu governo está “pronto para abrir os arquivos” e que gostaria de “estabelecer uma comissão conjunta de historiadores” para descontruir a ideia do genocídio armênio. Turcos muçulmanos admitem que muitos armênios cristãos morreram em confrontos com os soldados otomanos no início de 1915, quando a Armênia era parte de um império governado a partir de Istambul, mas não aceitam que o caso seja classificado como genocídio.
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Em protesto contra o pontífice, a Turquia já havia convocado o núncio (embaixador) da Santa Sé em Ancara como protesto. O jornal La Nación, contudo, aponta que o tom das críticas feitas pelo governo aumentou substancialmente nos últimos dias. Em nota, a embaixada da Turquia no Vaticano disse que é “uma calúnia” falar de genocídio armênio, uma vez que nenhum tribunal internacional o classificou como tal. Ahmet Davutoglu, primeiro-ministro do país, definiu o sermão de Francisco como “inapropriado”. O ministro para Assuntos Europeus, Volkan Bozkir, reforçou as críticas, dizendo que o papa falou em genocídio por ter nascido na Argentina, “um país que acolheu os nazistas” que fugiram da Alemanha após a II Guerra Mundial e que “lamentavelmente a diáspora armênia domina o mundo da imprensa e dos negócios”.
Essa foi a primeira vez que um papa pronunciou publicamente a palavra “genocídio” em relação ao massacre, repetindo um termo usado por alguns países europeus e sul-americanos, mas evitado pelos Estados Unidos, entre outros, para manter as boas relações com um aliado importante. Em 2001, o papa João Paulo 2º e o patriarca supremo da Igreja Apostólica Armênia, Karekin 2º, chamaram o ocorrido de “o primeiro genocídio do século XX” num comunicado conjunto.
(Da redação)