Os governos do Reino Unido, França, Alemanha e Itália se recusaram a reconhecer a independência da Catalunha. Já a Organização do Atlântico Norte (Otan) e a Comissão Europeia (CE) pediram que a crise local seja resolvida de forma legal e segundo a soberania espanhola.
Um porta-voz da primeira-ministra Theresa May afirmou que o Reino Unido “não reconhece, nem reconhecerá” a declaração unilateral de independência aprovada pelo Parlamento da região espanhola da Catalunha nesta sexta-feira. “Continuamos a querer ver o império da lei ser preservado, a Constituição espanhola ser respeitada e a unidade da Espanha ser mantida”, afirmou.
O porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, afirmou que apoia a postura do governo de Mariano Rajoy em defesa da “ordem constitucional”. “Esperamos que os envolvidos aproveitem todas as oportunidades para o diálogo”, disse.
O ministro de Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, também reforçou que seu país não reconhecerá a independência e que seu único interlocutor é o governo da Espanha em Madri. Pouco antes, o presidente da França, Emmanuel Macron, se expressou da mesma forma durante uma visita à base aeroespacial europeia de Kourou (Guiana Francesa) e ressaltou que a situação na Catalunha é um “assunto interno” espanhol.
A Itália também foi firme em seu posicionamento. “A Itália não reconhece nem reconhecerá a declaração unilateral de independência proclamada hoje pelo Parlamento regional da Catalunha. Trata-se, de fato, de um gesto gravíssimo e fora da lei”, afirmou o chanceler italiano, Angelino Alfano, em comunicado.
Ordem constitucional e democracia
A Otan, por sua vez, disse nesta sexta-feira que a crise na Catalunha deve ser resolvida “dentro do marco constitucional espanhol”. Segundo fontes da organização, “a Espanha é um aliado comprometido que faz uma contribuição importante para a segurança compartilhada”.
A Espanha é, desde 1982, membro da Otan, uma aliança política e militar da qual atualmente fazem parte 29 países.
O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, afirmou que respeita as decisões que serão tomadas pelo governo da Espanha contra a declaração unilateral de independência por parte da Catalunha. “É um processo no Estado espanhol e respeito todas as decisões que o governo tomar”, disse Juncker também durante uma visita à base de Kourou.
Até mesmo o governo da Escócia, que debate com o Reino Unido atualmente seu próprio processo de independência, defendeu uma solução que respeite “a democracia e a legalidade” para a crise espanhola. “A prioridade de todos aqueles que se consideram amigos e aliados da Espanha deveria ser impulsionar um processo de diálogo para encontrar uma solução que respeite a democracia e a legalidade”, afirmou a secretária de Cultura, Turismo e Relações Exteriores escocesa, a nacionalista Fiona Hyslop.
Já a Abcásia, uma região autônoma que rompeu com a Geórgia em 2008 e só é reconhecida internacionalmente por Rússia, Venezuela e Nicarágua, declarou nesta sexta-feira que tem intenção de reconhecer a independência da região espanhola. “Estamos dispostos a estudar o assunto do reconhecimento da Catalunha em qualidade de Estado independente, mas falar disso é prematuro”, disse o vice-ministro de Relações Exteriores da república autoproclamada, Kan Tania.
O diplomata ressaltou que, para que a Catalunha seja considerada um Estado independente, ela ainda precisa cumprir com uma série de normativas legais, mas ressaltou o interesse da Abecásia em estabelecer relações com líderes, políticos e o povo catalão em seu conjunto. “Depois disso, se eles se dirigirem a nós com um pedido de reconhecimento, nós, certamente, estaremos dispostos a estudá-lo”, comentou Tania.
Intervenção espanhola
Nesta sexta, o Parlamento catalão votou e aprovou o início do processo de independência da região. A proposta autorizada pela maioria dos deputados da casa deveria dar início à redação de uma Constituição própria.
Mais tarde, porém, o Senado espanhol autorizou a aplicação do artigo 155 da Constituição, que permite ao governo intervir na autonomia da Catalunha e destituir todos os membros do governo catalão. Após uma reunião com todos os seus ministros, o premiê Mariano Rajoy anunciou a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições locais em dezembro.
Além disso, o presidente catalão, Carles Puigdemont, seu vice, Oriol Junqueras, e outros membros da administração regional foram depostos. O diretor da polícia local, a Mossos d’Esquadra, também foi retirado de seu cargo.
(com EFE)