Nove pessoas foram detidas na França, nas últimas horas, depois que um professor foi decapitado na sexta-feira 16 na periferia de Paris após exibir charges do profeta Maomé a seus alunos. Ele foi assassinado por um jovem de 18 anos, de origem chechena.
Samuel Paty, um professor de história e geografia de 47 foi decapitado no meio da rua próximo à escola onde trabalhava, em Conflans-Sainte-Honorine, uma pequena cidade de 35.000 habitantes localizada a 30 quilômetros de Paris. Imediatamente após o ataque, a polícia tentou deter na área um homem armado com uma faca. Os policiais reagiram e abriram fogo, matando o agressor.
A identidade do agressor foi confirmada neste sábado. Ele tinha 18 anos, nasceu na Rússia, mas era checheno. Não tinha antecedentes criminais, embora já tenha cometido um delito leve. Os serviços de segurança também não haviam registrado uma possível radicalização do suspeito.
Até o momento, quatro familiares do agressor (pais, avô e irmão caçula) e outras cinco pessoas de seu entorno foram presas. Entre elas, está o pai de um aluno do instituto onde a vítima trabalhava. Ele e o professor tiveram uma discussão, depois que as charges de Maomé foram apresentadas em uma aula dedicada à liberdade de expressão.
Rapidamente rotulado como um “ataque islâmico” pelas autoridades, o crime chocou a França. Desde 2015, o país sofre uma série de ataques extremistas que deixaram mais de 250 mortos.
O assassinato ocorre três semanas após um ataque a faca na capital francesa perto da antiga sede da revista Charlie Hebdo, que publicou as charges, consideradas ofensivas por muçulmanos. A representação visual dos profetas, como Abraão e Moisés, é estritamente proibida pelo islã sunita e, em alguns países muçulmanos mais rígidos, ridicularizar ou insultar o profeta Maomé pode resultar em pena de morte.
Rodrigo Arenas, copresidente da FCPE, a maior associação francesa de pais de alunos, confirmou que recebeu uma denúncia, há alguns dias, de “um pai extremamente irritado”, porque uma imagem de Maomé foi mostrada na aula de sua filha. Segundo Arenas, para não ferir a sensibilidade de alguns, o professor teria “convidado os alunos muçulmanos a saírem da sala” antes de mostrar a imagem do profeta agachado, com uma estrela desenhada nas nádegas, e a inscrição “nasce uma estrela”.
Uma investigação sobre o ataque foi aberta por “assassinato em conexão com uma organização terrorista” e “associação criminosa terrorista” e delegada para unidade antiterrorismo da polícia. Foi estabelecido um perímetro de segurança e o serviço de desminagem foi chamado por suspeita de que o homem estivesse usando um colete explosivo.
A polícia também investiga uma mensagem postada no Twitter, que mostra uma foto da cabeça da vítima. A imagem é acompanhada de uma mensagem dirigida ao presidente da França, Emmanuel Macron, “o líder dos infiéis”. Na publicação, o autor do tuíte também disse que quis “executar” a pessoa que “se atreveu a menosprezar Maomé”.
Macron dirigiu-se na sexta-feira imediatamente ao local do ataque, acompanhado de seu ministro do Interior, Gérald Darmanin, que interrompeu uma viagem ao Marrocos e voltou a Paris. Também integrava a comitiva o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer.
“Não passarão, o obscurantismo e a violência que o acompanham, não vencerão”, acrescentou o presidente, que tomou a palavra após se reunir com professores da escola onde o professor trabalhava.
Pelo Twitter, o ministro da Educação já havia dito após o assassinato do professor que “é a República que está sendo atacada”.
Neste sábado, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, enviou pelo Twitter uma mensagem de solidariedade a todos os professores “na França e na Europa”.
“Sem eles, não há cidadãos, sem eles, não há democracia”, afirmou Ursula.
Há apenas três semanas, duas pessoas ficaram feridas após um ataque realizado com um facão por um paquistanês de 25 anos próximo às antigas instalações do semanário satírico Charlie Hebdo. O autor do ataque disse aos investigadores que queria vingar a republicação das charges de Maomé pela revista no início de setembro.
Sob o título “Tout ça pour ça” (‘Tudo isso por isso’, em tradução livre), a revista voltou a republicar desenhos do profeta que incitaram um ataque em janeiro de 2015 por dois extremistas que deixou 17 mortos. A republicação das charges foi feita por conta do julgamento dos atentados, que começaram no início de setembro.
Vários integrantes da redação do Charlie Hebdo morreram no atentado, incluindo os desenhistas Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski, o que provocou um movimento de apoio sem precedentes a favor do semanário satírico, na França e no exterior.