Polícia do Haiti mata quatro suspeitos de assassinar presidente
Operação também resultou na libertação de três agentes que haviam sido sequestrados pelos suspeitos de terem matado Jovenel Moïse
A polícia do Haiti anunciou na noite da quarta-feira, 7, a morte de quatro supostos “mercenários” e a prisão de outros dois, acusados de assassinarem o presidente Jovenel Moïse na madrugada de terça para quarta-feira. A operação policial também resultou na libertação de três agentes que haviam sido sequestrados pelos suspeitos de terem matado o mandatário, segundo o chefe da polícia haitiana.
“Quatro mercenários foram mortos, [e outros] dois postos sob nosso controle. Três policiais que tinham sido tomados como reféns foram resgatados”, disse o diretor-geral da polícia haitiana, Léon Charles, em um comunicado lido na televisão, junto ao primeiro-ministro em exercício, Claude Joseph, e outras autoridades.
Segundo Charles, há uma operação de captura em andamento na capital, Porto Príncipe, para encontrar outros suspeitos de envolvimento no assassinato do presidente, de 53 anos.
Os supostos assassinos foram interceptados pela polícia após um intenso tiroteio no bairro de Pelerin, onde ocorreu o assassinato. Em pronunciamento à imprensa, o ministro da Cultura e Comunicação, Pradel Henríquez, reiterou que os responsáveis pelo atentado são estrangeiros que falam espanhol e inglês, mas não deu detalhes sobre nacionalidade ou identidade.
Perícia
Na quarta-feira, o juiz de paz encarregado do laudo pericial afirmou que Moïse recebeu 12 impactos de bala, de grande calibre e também de 9 milímetros, durante o atentado que o matou,
“Nós o encontramos deitado de costas, calça azul, camisa branca manchada de sangue, boca aberta, olho esquerdo perfurado. Vimos um buraco de bala na testa, um em cada mamilo, três no quadril, um no abdômen,” detalhou o juiz Carl Henry Destin.
O responsável pela análise do corpo disse que, além de Moise, a outra única ferida foi sua esposa Martine, que está internada em Miami, nos Estados Unidos. A filha do casal estava no mesmo cômodo que seus pais no momento do ataque, mas conseguiu se esconder no quarto do irmão, que também saiu ileso.
O juiz de paz também afirmou que o escritório e o quarto de Moise foram saqueados pelos criminosos, que invadiram a residência do presidente fortemente armados na madrugada de quarta-feira.
Crise política
O ataque, contudo, acontece em meio a uma onda crescente de violência ligada à crise política no país. Em fevereiro, Moïse denunciou que a oposição, com o apoio de juízes, estava tramando um golpe de Estado. Segundo a oposição, o mandato presidencial deveria ter terminado em 7 de fevereiro, cinco anos após o ex-presidente Michel Martelly deixar o poder.
As eleições de 2015 deram vitória a Moïse no primeiro turno, mas foram anuladas por denúncias de fraude. Moïse, na prática, decidiu se manter no poder e governava há dois anos por decreto, após o país fracassar em realizar novas eleições, o que levou à dissolução do Parlamento.
Afirmando que o mandato de cinco anos acabaria apenas em 2022, ele remarcou as eleições legislativas para setembro, mesma data para qual convocou um referendo para aprovar uma nova Constituição, um projeto que não teve o apoio da oposição nem da comunidade internacional.
No início da semana, o presidente havia nomeado um sucessor para o cargo de Joseph, o médico Ariel Henry, com a tarefa de formar um governo de consenso que integra diferentes setores da vida política do país. Henry seria o sétimo a ocupar o cargo em quatro anos.
O presidente já enfrentava protestos desde que assumiu o comando do país, em 2017, sendo acusado pela oposição de tendências autoritárias e tentar instalar uma ditadura ao prolongar seu mandato. Em 2019, protestos paralisaram a capital haitiana exigindo a renúncia do presidente, acusado de participar de um escândalo de malversação de dois bilhões de dólares do fundo do Petrocaribe, mecanismo pelo qual a Venezuela forneceu petróleo a países caribenhos e centro-americanos a preços reduzidos.