Pobreza elevada transforma praça central argentina em refeitório noturno
A menos de um mês das eleições no país, inflação anual atinge a marca de 124%, enquanto a pobreza alcança 12 milhões de pessoas
Palco de muitas das grandes manifestações da história da Argentina, a Plaza de Mayo, situada no coração de Buenos Aires, tornou-se símbolo da crise nacional: à noite, um número progressivo de cidadãos se desloca à praça em busca de refeições quentes. A menos de um mês das eleições no país, previstas para 22 de outubro, a inflação anual atinge a marca de 124%, enquanto a pobreza alcança 40% dos argentinos, cerca de 12 milhões de pessoas.
Em depoimento à agência de notícias Reuters, a viúva Erica Maya, de 45 anos, está entre aqueles que frequentam as longas filas de distribuição de comida na praça, situada na frente da Casa Rosada, sede do governo argentino. Ela afirma que embolsaria, no máximo, apenas 4 mil pesos (R$ 56 na atual cotação) com o trabalho diário de coleta de papelão.
“É melhor e mais fácil vir aqui, você come melhor. Você sai de barriga cheia e feliz”, afirma Maya, mãe de seis filhos.
+ Quem é Javier Milei, radical de direita e líder das primárias na Argentina
A crise enfraqueceu a popularidade do governo peronista e do seu candidato presidencial, o ministro da Economia, Sergio Massa, enquanto levou o ultradireitista Javier Milei ao topo das pesquisas. As primárias, realizadas em 13 de agosto, atestaram a sua liderança, acumulando mais de 7,3 milhões de votos. Ele foi seguido por Massa (5,2 milhões) e por Patricia Bullrich (4,1 milhões). O segundo turno será pautado pela insatisfação econômica e pelo desejo por renovação política.
“São necessárias políticas de Estado que sejam consensuais e que visem a produção e o aumento do trabalho. Caso contrário, é quase impossível sairmos desta situação”, adverte Eduardo Donza, do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica.
Preocupados com o sustento familiar, grande parte dos argentinos se dedica a atividades extras para complementar a baixa renda. Ao todo, 35,5% dos trabalhadores atuam na informalidade, sem carteira assinada. A dura realidade foi reforçada por uma pesquisa do Instituto de Estudos do Trabalho e Desenvolvimento Econômico (Ielde): 8 em cada 10 empregos criados no pós-pandemia foram para cargos autônomos ou não registrados.