Parlamento britânico denuncia exploração sexual por agentes humanitários
Relatório recomenda tolerância zero para os casos de abuso, fim da complacência dos líderes das organizações e mais transparência
Relatório do Parlamento britânico concluiu ser endêmica a exploração e o abuso sexual de mulheres e crianças por agentes humanitários que atuam em países em desenvolvimento. Divulgado nesta terça-feira 31, em Londres, o documento sublinha serem comuns casos de sistemática exploração criminosa, como o de tráfico humano para prostituição.
“Muitas agências têm políticas e programas destinados a evitar todos esses desafios. Apesar disso, é particularmente horrível encontrar evidências de funcionários dos setores de ajuda e segurança perpetrando esses abusos em vez de combatê-los”, diz o documento.
A iniciativa do Comitê de Desenvolvimento Internacional da Câmara dos Comuns surgiu depois da divulgação de casos de abuso sexual cometidos por empregados de organizações não governamentais, entre as quais Oxfam e Save the Children, no início deste ano. Em fevereiro, o Comitê decidiu abrir suas próprias investigações.
No início deste ano, tornou-se conhecido o caso de um alto funcionário da Oxfam que contratara prostitutas durante os trabalhos da organização de ajuda às vítimas do terremoto no Haiti, em 2010. O caso provocou a demissão de sete funcionários da organização, que foi acusada de encobrir os fatos. Em fevereiro, o grupo fez um pedido formal de desculpas ao governo do Haiti.
Dias depois, segundo a CNN, o então diretor executivo da Unicef, Justin Forsyth, foi acusado de abusar de funcionárias durante os quatro anos em que fora executivo-chefe da organização Save the Children. A Cruz Vermelha também divulgou, em fevereiro, a demissão de 21 funcionários por pagar por serviços sexuais desde 2015.
Os casos que vieram à luz, de acordo com o relatório, são apenas a “ponta do iceberg”. Predominantemente, os abusadores são homens que agem, de forma predatória, contra mulheres e meninas em situação de vulnerabilidade. A preocupação mais alarmante e profunda está no fato de esses predadores se moverem de uma organização para outra, sem terem seus comportamentos criminosos identificados.
De acordo com o relatório, as organizações humanitárias fracassam ao lidar com essa questão, que tem sido recorrente há anos. “Repetidamente, surgem casos de exploração e abuso sexual por trabalhadores de agências humanitárias e forças de paz, o setor reage e, então, o foco nessa questão se enfraquece”, conclui.
O presidente do comitê, Stephen Twigg, afirmou à rede de televisão americana CNN que essa falha tem sido observada nos últimos dezesseis anos, pelo menos. As organizações humanitárias, disse ele, colocam suas reputações na frente das mulheres, crianças e outras vítimas da exploração e do abuso sexual.
O relatório recomenda tolerância zero para esses casos e a transformação da cultura organizacional das agências humanitárias como meio de enfrentar a questão do abuso e da exploração sexual. Os líderes das agências não podem ser complacentes em nenhum caso reportado, assim como devem apostar na maior transparência também nessas questões sensíveis.
“É vital que as organizações humanitárias sejam totalmente abertas sobre os números de alegações de exploração e abuso sexual recebidas e sobre como lidaram com elas”, recomenda o Comitê.