Papa Bento XVI isenta judeus de culpa por morte de Jesus
Em novo livro, Bento XVI analisa trechos polêmicos sobre tema nos Evangelhos
“O sangue de Jesus não clama por vingança e punição, mas traz reconciliação. Ele não foi derramado contra ninguém, mas a favor de muitos, de todos”
Para o papa Bento XVI, a ideia de que os judeus são os culpados pela morte de Jesus Cristo, tese polêmica debatida há séculos e séculos, é equivocada. A posição do pontífice, que também é um respeitadíssimo estudioso das Escrituras cristãs, é apresentada num livro que será lançado na semana que vem. Para ele, essa versão sobre a morte de Jesus provocou uma brutal perseguição contra os judeus, culminando com o Holocausto, na II Guerra Mundial.
A comunidade judaica elogiou as declarações do papa. Para a Liga Antidifamação Judaica, trata-se de um “momento histórico”, ainda que a Igreja já tenha repudiado oficialmente a ideia em 1965. “Esse é um repúdio pessoal de um conceito que sustentou teologicamente séculos de antissemitismo”, disse Elan Steinberg, vice-presidente da entidade Encontro Americano dos Sobreviventes do Holocausto e Seus Descendentes, à rede britânica BBC.
Nos trechos já divulgados do livro, o papa analisa o julgamento de Jesus Cristo segundo João, que escreve que Jesus foi acusado “pelos judeus”. A esse respeito, Bento XVI questiona: “Devemos nos perguntar: quem exatamente foram os acusadores de Jesus? Ora, como poderia estar todo o povo judeu ali para condená-lo?”. Então, ele expõe que apenas um pequeno grupo de líderes do Templo de Jerusalém e seus aliados estavam presentes na ocasião.
Conforme o papa, esses são os judeus a que João se refere, e não a comunidade judaica como um todo. Com relação a outro trecho polêmico dos Evangelhos, em que o apóstolo Mateus diz “que Seu sangue esteja sobre nós e nossos descendentes”, Bento XVI responde que o sangue de Jesus “não clama por vingança e punição, mas traz reconciliação. Ele não foi derramado contra ninguém, mas a favor de muitos, de todos”.