O chefe da agência de refugiados das Nações Unidas (ACNUR), Filippo Grandi, acusou a Rússia de violar os “princípios fundamentais de proteção à criança” em tempos de guerra, dizendo que Moscou está dando passaportes russos a crianças ucranianas e colocando-as para adoção.
Em uma entrevista à agência de notícias Reuters em Kiev, após uma viagem de seis dias pela Ucrânia, Grandi afirmou que o presidente da Ucrânia pediu à sua agência para “fazer mais” para ajudar crianças de regiões ocupadas nas quais isso estava acontecendo.
“Dar a eles nacionalidade ou adotá-los vai contra os princípios fundamentais de proteção à criança em situações de guerra”, disse Grandi. “Isso é algo que está acontecendo na Rússia e não deve acontecer”, acrescentou.
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Grandi disse que sua agência não conseguiu estimar o número de crianças que receberam passaportes ou foram colocadas para adoção, já que o acesso a dados na Rússia é extremamente limitado.
“Estamos buscando acesso o tempo todo, e o acesso tem sido bastante raro, esporádico – e não irrestrito, se é que me entende”, explicou.
A Rússia disse que as acusações de sequestro de crianças ucranianas são falsas. “Rejeitamos categoricamente as alegações infundadas de que as autoridades russas estão sequestrando crianças”, disse o diplomata russo nas Nações Unidas, Dmitry Polyansky, em julho.
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Além disso, Grandi destacou duas possíveis tendências na crise de refugiados da Ucrânia, que viu oito milhões de pessoas deixarem o país após a invasão de Moscou em fevereiro do ano passado, além de vários milhões de deslocamentos internos.
O chefe do ACNUR disse que mais refugiados poderiam voltar à Ucrânia na estação quente, como aconteceu em 2022, quando a agência observou “centenas de milhares” de retornos durante o verão – embora esse movimento tenha sido interrompido pelo início do inverno.
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O inverno tipicamente gelado da Ucrânia tornou-se ainda mais rigoroso este ano devido a cortes de energia, água e aquecimento nas principais cidades. Desde o início da estação, a Rússia iniciou uma campanha de ataques com mísseis contra a infraestrutura de energia de seu vizinho, para usar o frio a seu favor.
Grandi também alertou que uma escalada nos combates poderia desencadear uma nova onda de refugiados, embora provavelmente sejam internos.
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“O que vimos nos últimos dias não é muito promissor a esse respeito. Todo mundo prevê que haverá um aumento das hostilidades, uma escalada – e isso provavelmente gerará mais deslocamentos”, disse.