Onda de calor na Europa deixou mais de 20 mil mortos neste ano, diz estudo
De acordo com levantamento de dados e avaliação de cientistas, as temperaturas deste ano teriam sido praticamente impossíveis sem a crise climática
A onda de calor que varreu a Europa durante o verão do hemisfério norte deste ano (entre o fim de maio e agosto) deixou mais de 20 mil mortos, por conta de temperaturas que seriam praticamente impossíveis sem as mudanças climáticas, revela uma análise feita por cientistas da organização World Weather Attribution.
A análise do excesso de mortes – diferença entre o número de mortes que ocorreram e as esperadas com base nas tendências históricas – mostra o potencial das ameaças do aquecimento global induzido pelas mudanças climáticas, disseram os pesquisadores.
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Durante a onda de calor europeia, as temperaturas ultrapassaram 40°C em Londres. Áreas no sudoeste da França chegaram 42°C, enquanto Sevilha e Córdoba, na Espanha, estabeleceram recordes de 44°C. A análise do grupo de cientistas descobriu que tais altas temperaturas teriam sido “virtualmente impossíveis” sem a crise climática.
Na Inglaterra e no País de Gales, foram registradas 3.271 mortes em excesso entre 1º de junho e 7 de setembro, segundo o Office for National Statistics – 6,2% a mais que a média de cinco anos. A análise não estima especificamente as mortes relacionadas à temperatura, mas o número de mortes foi maior, em média, no período da onda de calor do que nos dias mais frios. Foram excluídas as mortes por Covid-19.
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Na França, houve 10.420 mortes em excesso relatadas durante os meses de verão, segundo dados divulgados pela Santé Publique France, a agência governamental de saúde. Uma em cada quatro dessas mortes, ou 2.816, aconteceu durante uma das três intensas ondas de calor que atingiram o país. O excesso de mortes foi 20% maior em regiões onde foram emitidos alertas vermelhos de temperatura extrema.
Na Espanha, o Instituto de Saúde Carlos III, apoiado pelo estado, estima que houve 4.655 mortes devido à onda de calor entre junho e agosto.
O Instituto Robert Koch, agência de saúde do governo alemão, calcula que 4.500 pessoas morreram no país durante os meses de verão, especificamente devido a temperaturas extremas.
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O verão europeu de 2022 foi o mais quente já registrado na história, de acordo com o serviço de mudanças climáticas Copernicus da União Europeia. Segundo cientistas, contudo, as ondas de calor estão se tornando mais frequentes e intensas com o aquecimento global, o que significa que muitos recordes ainda podem ser quebrados.
O aquecimento global é causado pela queima de combustíveis fósseis, destruição de florestas e outras atividades humanas. A Agência Internacional de Energia alertou, no ano passado, que nenhum novo projeto de exploração de gás, petróleo ou carvão poderia ocorrer a partir de 2022 se o mundo quisesse limitar o aquecimento global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais – recomendação do IPCC, painel do clima das Nações Unidas.
Enquanto isso, a sociedade precisa se adaptar a níveis mais extremos de calor, porque mesmo se as emissões de carbono fossem a zero a partir de hoje, ainda demoraria décadas até que o planeta começasse a esfriar. A adaptação inclui projetar casas, escolas e hospitais que tenham boa ventilação e evitem o superaquecimento, bem como aumentar espaços verdes e parques nas cidades.