A Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou nesta terça-feira, 24, que só dispõe de material médico no Afeganistão para uma semana, diante da impossibilidade da chegada de material ao país. A declaração se dá em um momento em que aumentam as necessidades, pela violência e o caos estabelecido em Cabul, e em meio às frequentes cenas de desespero no principal aeroporto do país.
“Agora mesmo, a OMS só tem suprimentos suficientes no país para uma semana”, indicou o diretor regional da agência para o Mediterrâneo Oriental, Ahmed al Mandhari, em entrevista à imprensa internacional.
O representante da organização explicou que mais de 500 toneladas de material destinadas ao Afeganistão estão bloqueadas em Dubai, nos Emirados Árabes, e que não há possibilidade de fazer o envio por via aérea para o aeroporto de Cabul.
A escassez, segundo o diretor regional da OMS, coincide com um aumento das necessidades no território afegão, devido aos eventos dos últimos dias.
No principal aeroporto do país, em Cabul, dezenas de milhares de afegãos continuam retidos, à espera de voos humanitários para deixar o Afeganistão. Segundo relatos das poucas agências de notícias que permanecem no país, as crianças são o grupo mais castigado pela longa espera no entorno do aeroporto e as temperaturas do verão local são escaldantes, e tem superado os 40°C nos últimos dias.
Também há relatos de escassez de água e comida. O abastecimento tem sido irregular e ficado a cargo de militares da Turquia, agora encarregados de patrulhar o terminal aéreo e seu entorno.
Após conquistar uma série de capitais provinciais na última semana, os fundamentalistas do Talibã sitiaram Cabul no domingo 14, movimento que fez com que o presidente Ashraf Ghani partisse para o Uzbequistão com sua esposa e dois assessores próximos. Poucas horas depois, o grupo entrou no Palácio Presidencial e fez um pronunciamento à mídia afirmando que tem o total controle sobre o país.
Covid-19, saúde reprodutiva e traumas
No contexto mais amplo, a OMS também teme um novo pico de casos de Covid-19, dado o intenso movimento de deslocados internos. De acordo com a agência, até a semana passada, foram registrados no Afeganistão 158,6 mil casos de infecção, e o número de positivos contabilizados diariamente vinha diminuindo. No entanto, a preocupação surge porque apenas 5% da população local estão vacinados.
Além disso, a OMS indicou ter recebido informações de um aumento dos casos de diarreia, pressão alta, complicações em saúde reprodutiva, desnutrição, traumas e outros tipos de casos que precisariam de atendimento de urgência.
O diretor regional de Emergências da Organização Mundial da Saúde, Richard Brennan, informou que a agência recebeu ofertas de voos para levar o material bloqueado ao Afeganistão e que espera “notícias animadoras” sobre a questão nos próximos dias.
Já o representante da OMS no país asiático, Dapeng Luo, garantiu que os talibãs estão apoiando o trabalho da agência no país e não estão pressionando os funcionários que atuam no território, embora, algumas mulheres tenham deixado os postos, por se sentirem inseguras.
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde conta com 684 pessoas atuando em 34 províncias afegãs, que antes da crise com a tomada pelos insurgentes, já era o cenário da terceira maior operação humanitária do mundo, por causa da “guerra, migração, seca, fome e, claro, a pandemia da covid-19”, destacou Luo.