O discurso do senador Barack Obama sobre a questão racial na corrida presidencial americana, na terça-feira, na Filadélfia, pode ter papel semelhante ao pronunciamento histórico de John Kennedy sobre religião, na campanha de 1960. De acordo com historiadores e cientistas políticos americanos, o discurso de Kennedy ajudou a derrubar os temores de parte da sociedade americana em relação à sua eleição — e algo similar poderia acontecer com Obama.
“O paralelo com Kennedy logo veio à mente de muita gente”, disse o cientista político Stephen Hess, do Brookings Institution, em entrevista divulgada nesta quarta pela rede Bloomberg. Obama foi elogiado por decidir abordar a questão racial sem buscar um ganho político imediato. No discurso, ele disse que é impossível ignorar o assunto, mas adotou tom conciliador e moderado. Obama vinha evitando falar sobre o tema, mas uma polêmica envolvendo o reverendo de sua igreja pressionou o candidato a falar (abaixo, cenas do discurso).
Na campanha de 1960, Kennedy fugia da discussão sobre religião — era católico, enquanto o país tem maioria protestante. Em 12 de setembro de 1960, porém, ele visitou uma congregação protestante em Houston, no Texas, e tratou abertamente de suas crenças. O discurso é apontado como um dos elementos decisivos da campanha de 48 anos atrás. Naquele tempo, seus rivais diziam que ele se curvaria às pressões do Vaticano se fosse eleito presidente (abaixo, cenas do discurso).
Kennedy respondeu dizendo que acreditava num país “onde a intolerância religiosa acabaria, onde todos os homens e igrejas seriam tratados como iguais”. “Não há voto católico nem anticatólico”, afirmou. Na terça, Obama disse que “não podemos resolver os problemas do nosso tempo se não trabalharmos juntos”. Era uma referência aos discursos polêmicos do reverendo que celebrou seu casamento e batizou suas filhas, Jeremiah Wright. Em alguns sermões, ele fez críticas aos americanos brancos.