O Rio de Janeiro sediará entre a quarta-feira, 21, e quinta-feira, 22, o encontro dos chanceleres do G20, bloco que reúne as maiores economias do mundo, sob presidência do Brasil desde dezembro do ano passado. O evento será liderado pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e contará com a presença de representantes dos Estados-membros, incluindo o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.
A liderança brasileira faz parte do sistema de presidências rotativas do G20, e dura até novembro deste ano. O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ficou a cargo, então, de receber o importante encontro da cúpula de Chefes de Estado e de Governo do G20, marcado para 8 e 19 de novembro. Até a data, serão cerca de 130 reuniões, parte delas presenciais, distribuídas por 15 cidades do país.
Além do Brasil, compõem o G20 a África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, além dos blocos União Africana e União Europeia. Juntos, representam cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e dois terços da população do planeta.
Todos enviarão seus chanceleres ou representantes diplomáticos à Marina da Glória, onde será realizada a reunião desta quarta e quinta. É a primeira vez que o Brasil ocupa a presidência do fórum.
O encontro no Rio também contará com a presença de enviados de países convidados: Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria, Noruega, Portugal, Singapura, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Mais de 10 entidades também receberam convite, como as Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
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Assuntos em voga
Brasília estabeleceu três tópicos centrais para o encontro, segundo comunicado do portal do G20 no Brasil:
- Inclusão social e combate à fome e à pobreza;
- Promoção do desenvolvimento sustentável, considerando-se seus 3 pilares: social, econômico e ambiental;
- Reforma das instituições da governança global”.
Ou seja, as reuniões mergulharão em debates relacionados a temas quentes do cenário político internacional, como os efeitos das guerras Israel-Hamas e Rússia-Ucrânia, além da reforma dos organismos internacionais, como ONU, OMC (Organização Mundial do Comércio) e bancos multilaterais. Em janeiro, as Nações Unidas alertaram sobre a fome “generalizada” na Faixa de Gaza, em razão da ofensiva militar israelense. A desnutrição também aumenta o risco de disseminação de doenças infecciosas, acrescentou na ocasião.
O evento ocorre poucos dias após o polêmico comparativo de Lula do “genocídio” em Gaza com o Holocausto contra judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler, que gerou uma picante briga diplomática. A repórteres, o presidente brasileiro afirmou no domingo 18 que “o que está acontecendo na Faixa Gaza não existe em nenhum outro momento histórico, aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.
A declaração enfureceu a comunidade israelense no Brasil e o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, que declarou Lula persona non grata “até que retire o que disse”. Em contrapartida, a Federação Árabe Palestina no Brasil ofereceu apoio ao petista, acrescentando que o novo título é “uma honraria para a biografia de Lula” e que o gesto é “corajoso”, com “implicações internacionais importantíssimas”.
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Dúvidas sobre ‘efetividade’
Além dos controversos comentários, outras questões podem minar as discussões que têm início nesta quarta-feira. Para Igor Lucena, especialista em economia e relações internacionais do think tank Chatham House, o grande número de eleições ao redor do mundo neste ano (mais de 70) deve impactar diretamente a postura dos chanceleres, uma vez que qualquer declaração fora da curva tem potencial de afetar negativamente a angariação de votos pelos candidatos governistas.
“Eu tenho dúvidas sobre a efetividade dessa reunião do G20 por um motivo muito simples. Teremos dezenas de eleições ao redor do mundo neste ano, então muitos dos chanceleres vão ser receosos em tomar posições radicais ou fortes com medo de que possam impactar os seus presidentes ou primeiros-ministros [nas urnas]“, disse Lucena a VEJA.
“O Brasil não foi feliz em assumir essas reuniões do G20 neste momento. Acredito que haverão muitos debates, mas pouca resolutividade”, concluiu.
Dito isso, o encontro dos chanceleres será uma reunião só de debates. Ou seja, não tem caráter decisório nem vai produzir algum texto conclusivo para a cúpula. No entanto, é o que vai direcionar a pauta das conversas – o que, segundo a análise de Lucena, pode indicar que a presidência brasileira do G20 colherá poucos frutos.