Quando líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a principal aliança militar ocidental, se encontrarem para uma cúpula extraordinária em Bruxelas na quinta-feira, 24, a prioridade máxima será a invasão da Rússia à Ucrânia. O evento, marcado para as 6h, horário de Brasília, deve desdobrar a estratégia de resposta do grupo à ameaça imposta pelo governo de Vladimir Putin.
Enquanto novos compromissos para ajuda militar e humanitária devem ser adotados, a perspectiva para medidas mais duras ainda são escassas, apesar de pressão internacional para intervenção no conflito.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, participará virtualmente, após ser convidado pela aliança, mesmo seu país não sendo membro. O tema, inclusive, é principal ponto de embate entre Moscou e Kiev e, recentemente, Zelensky chegou a reconhecer que seu país presidente entender que a “porta da Otan não está aberta” para a Ucrânia.
De acordo com o secretário de Imprensa ucraniano, o discurso do presidente será focado em pedir por mais ações que impeçam o ataque a áreas onde há civis e infraestrutura urbana. Desde o início do conflito, a Ucrânia tem acusado a Rússia de realizar bombardeios em regiões com a presença de civis, como um teatro e uma maternidade em Mariupol, atos negados veementemente pelo Kremlin.
Em entrevista feita nesta quarta-feira, às vésperas do encontro, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, deixou claro que a aliança deve decidir a favor do aumento de forças militares em seu flanco oriental. Uma entrada na guerra, com tropas próprias, no entanto, é altamente improvável, já que ambos os lados alertaram que isso poderia levar à “terceira guerra mundial”.
A decisão segue um aumento expressivo de presença militar na fronteira leste da aliança, com cerca de 40.000 soldados espalhados pelo países bálticos e pelo Mar Negro. Agora, a Otan espera enviar quatro novas unidades de combate em Bulgária, Hungria, Romênia e Eslováquia.
Em resposta, o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, já alertou que o envio de tropas à Ucrânia seria “muito imprudente” e “extremamente perigoso”. Segundo o representante, “qualquer possível contato entre nosso Exército e o Exército da Otan pode levar a consequências bastante compreensíveis que são difíceis de ser reparadas”.
Durante entrevista, dando o tom do que deve ser discutido na cúpula, Stoltenberg afirmou que a crise na Ucrânia mostrou que a Otan precisa mudar sua postura em relação a dissuasão e defesa no longo prazo. O assunto deve ser ainda mais discutido na próxima cúpula regular, marcada para o final de junho em Madrid.
Segundo o secretário-geral, também é esperado um acordo para garantir apoio à Ucrânia diante de “ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares”.
“Amanhã, espero que os aliados concordem em oferecer apoio adicional, incluindo assistência para cibersegurança, assim como equipamento para ajudar a Ucrânia a se proteger contra ameaças químicas, biológicas, radiológicas e nucleares”, disse o político norueguês, em entrevista coletiva.
Stoltenberg não quis dar detalhes sobre o tipo de equipamento que os membros da Otan poderiam oferecer à Kiev para a defesa neste tipo de cenário, mas garantiu que a aliança está preocupada pela possibilidade de uso destes tipos de armas.
Ele relembrou que o Kremlin já utilizou agentes químicos contra opositores e também no território da Otan, como no ataque ao ex-espião russo Sergey Skripal e a filha dele, na cidade de Salisbury, no Reino Unido, em 2018.
“A Rússia foi parte do uso de armas químicas na Síria. Sustentou e apoiou o regime de Bashar al-Assad, que usou armas químicas várias vezes. Assim, estamos preocupados, e essa também é a razão pela qual estamos preparados e tentaremos amanhã modos de oferecer apoio à Ucrânia para se proteger”, explicou.