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O papa sem filtro

A ala mais conservadora da Igreja se insurge contra as declarações de Francisco em relação a abusos sexuais, homossexuais, divorciados e outros temas atuais

Por Thais Navarro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 19h47 - Publicado em 17 Maio 2019, 07h00

Bastaram quatro dias para que o documentário polonês Só Não Conte a Ninguém, sobre um encontro de padres comprovadamente pedófilos com suas vítimas, alcançasse 15 milhões de visualizações no YouTube. O filme, lançado no sábado 11 e dirigido pelo cineasta polonês Tomasz Sekielski, expõe uma ferida aberta na Igreja Católica depois de passar décadas trancada a sete chaves no cofre dos segredos de polichinelo: o assédio sexual praticado por sacerdotes. O drama veio à tona por obra e graça do papa Francisco, que, depois de relutar em um primeiro momento, acabou decidindo escancarar a verdade. Dois dias antes da estreia do documentário, ele anunciou novas medidas para tratar do problema, entre elas a criação de um tribunal exclusivo para julgar os acusados de abusos e a exigência de que todas as dioceses do mundo providenciem um sistema de denúncias de fácil acesso, no prazo de um ano. Os crimes sexuais de religiosos são um entre vários temas espinhosos sobre os quais o pontífice vem se manifestando, atitude que desencadeou uma espécie de guerra santa na Igreja: quanto mais Francisco avança nas pautas reformistas, maior a reação da ala conservadora.

No fim de abril, o portal conservador católico LifeSiteNews divulgou uma carta com acusações contra o papa que já recebeu 86 adesões de teólogos e sacerdotes. Ela contém 21 denúncias e culmina em uma questão de extraordinário alcance: estaria Francisco negando dogmas da fé católica, ou seja, cometendo heresias? Entre as declarações papais condenadas estão a de que a homossexualidade não é “gravemente pecaminosa” e a defesa de que tanto os gays quanto os divorciados possam comungar. Os signatários classificaram a divulgação de seu alerta pela internet como “o último recurso possível para responder ao dano acumulado causado pelo papa Francisco”, cujas ações teriam dado origem a “uma das piores crises da história da Igreja Católica”. Acusar um papa de heresia é ato gravíssimo — a última vez em que isso aconteceu foi contra João XXII, pontífice entre 1316 e 1334.

Empenhado na limpeza dos escândalos sexuais e também dos esquemas de corrupção apontados em seu rebanho, o argentino Jorge Mario Bergoglio, o primeiro Santo Padre jesuíta e latino-americano, não cansa de lembrar os perigos das mudanças climáticas e critica o populismo que grassa no mundo. Além disso, mexeu num vespeiro ao abrir os arquivos da Igreja nos anos da II Guerra Mundial, período em que recai sobre o Vaticano a suspeita de colaborar com os nazistas. “Em comparação aos dois papas anteriores, Francisco se posiciona de maneira muito mais forte em questões sociais e não tem medo do tom político”, diz o italiano Massimo Faggioli, do Departamento de Teologia e Estudos Religiosos da Universidade Villanova, em Filadélfia. Imersos na secular resistência vaticana a rever preceitos, os conservadores católicos apresentam dificuldade para engolir um papa sem filtro.

 

Publicado em VEJA de 22 de maio de 2019, edição nº 2635

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