O caso Clifford Owensby: violência que não acaba
Um vídeo revoltante mostrou o homem negro de 39 anos, paraplégico, sendo arrastado para fora do carro pelos braços e pelos cabelos por policiais
Denunciado, julgado e condenado em alguns episódios, o tratamento dispensado aos negros pela polícia americana continua mesmo assim sendo uma ferida exposta que vira e mexe volta a infeccionar. Em Dayton, Ohio, mais um vídeo revoltante, gravado pelas minicâmeras que os próprios policiais portam nas patrulhas, mostra Clifford Owensby, 39 anos, paraplégico, sendo arrastado para fora do carro pelos braços e pelos cabelos. Parado em uma barreira ao deixar uma casa onde havia suspeitos de tráfico de drogas, ele recebeu ordens de sair do veículo. Repetiu reiteradamente que não conseguiria, por não ter o uso das pernas. Na filmagem, ouve-se o policial lhe dando duas opções: ou sai ou será removido à força. Em seguida, é puxado violentamente para fora. “Eles me arrastaram como um cachorro, como lixo. Foi uma humilhação”, disse depois. A polícia divulgou que Owensby tem “um histórico de crimes”. A revista do carro encontrou 22 000 dólares em espécie, mas nenhuma droga, e ele foi liberado sem acusação. Na ação mais escandalosa do gênero, em 2020, o policial Derek Chauvin passou nove minutos e 29 segundos comprimindo com o joelho o pescoço do negro George Floyd, à vista de todos. Floyd morreu asfixiado, desencadeando a maior onda de protestos raciais nos Estados Unidos desde o movimento pelos direitos civis dos anos 1960. Levado a julgamento, o que raramente acontece, Chauvin foi condenado a doze anos de prisão por homicídio. Pelo jeito, a punição — muito louvável — não serviu de lição.
Publicado em VEJA de 20 de outubro de 2021, edição nº 2760