Novo presidente, Sisi fala em ‘liberdade’ e ‘justiça social’
Em discurso depois do anúncio do resultado oficial das eleições, marechal repetiu slogans da revolta que derrubou o ditador Hosni Mubarak em 2011
Por Da Redação
3 jun 2014, 19h38
O marechal Abdul Fatah Sisi foi declarado nesta terça-feira presidente do Egito, com a divulgação dos números finais da eleição realizada na semana passada. Depois da oficialização, ele fez um discurso transmitido pela TV estatal no qual prometeu “pão, liberdade, dignidade e justiça social”, slogan entoado durante a revolta popular que derrubou o ditador Hosni Mubarak, em 2011.
“Vocês fizeram o que tinham de fazer e agora é hora de trabalhar”, disse o ex-chefe do Exército, que comandou o golpe contra o primeiro presidente eleito diretamente no país, Mohamed Mursi, em agosto do ano passado. “Nossa cooperação no trabalho e na construção vai nos levar à prosperidade”.
Segundo o resultado divulgado pela Comissão Eleitoral, Sisi recebeu 96,9% dos votos. O jornalista Hamdeen Sabahi, único oponente do marechal, obteve apenas 3,1%. O comparecimento nas urnas foi de 47% de um total de 54 milhões de eleitores. O alto índice de abstenção pairou como uma sombra sobre a vitória de Sisi, que previa um comparecimento em torno de 80% do eleitorado. Nem mesmo a manobra das autoridades de estender a votação por mais um dia e multar quem não comparecesse foi suficiente para mudar o quadro.
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Sem o respaldo da população egípcia, até mesmo as reformas econômicas que Sisi planeja estão em risco. Analistas creditam o baixo comparecimento ao temor de que ataques terroristas poderiam ser perpetrados nos dias de votação – um forte esquema de segurança foi preparado, com 250.000 homens protegendo locais que poderiam ser alvos de atentados.
Outro motivo apontado para a desmobilização foi o boicote de membros da Irmandade Muçulmana ao pleito. Ativistas liberais e seculares, incluindo o movimento jovem 6 de Abril, que teve papel de destaque nos protestos contra Mubarak, também boicotaram a votação em protestos contra a restrição a direitos civis.
Mas o fato é que, desde o início da campanha, Sisi já aparecia como favorito. No cargo de ministro da Defesa, ele desempenhou um papel de “protetor” do governo provisório instalado após a queda de Mursi e comandou os esforços para sufocar os radicais islâmicos no país. Diversos partidos de oposição afirmaram que o processo eleitoral careceu de transparência.
Um país que sofreu por seis décadas sob regimes militares tem hoje nas Forças Armadas aparecem sua instituição mais confiável. O problema é que depois de eleito, Mursi, membro da Irmandade Muçulmana, inflou seus próprios poderes e subtraiu direitos das mulheres e dos cristãos.
Ficaram intactos os privilégios dos militares, um mérito da influência de Sisi no alto mando da Irmandade. Um ano depois, Sisi deu o golpe naqueles que confiaram nele. A repressão que se seguiu deixou mais de mil de mortos e centenas de integrantes da Irmandade foram condenados. O grupo foi banido e declarado uma organização terrorista.
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Apesar de os egípcios sonharem com a democracia quando Mubarak foi derrubado depois de trinta anos no poder, agora a prioridade, para boa parte da população, parece ser a tranquilidade. “Por enquanto, acho que tudo bem comprometer liberdades em prol de estabilidade e segurança”, disse o comerciante Refat Ahmed, de 30 anos.
No encerramento da entrevista coletiva organizada pela comissão eleitoral, alguns jornalistas e funcionários do governo começaram a aplaudir, a cantar “Sisi” e a dançar ao som de canções pró-Exército. Milhares de apoiadores do ex-general também celebraram na Praça Tahir, no Cairo.
Economia – Uma das prioridades para o novo presidente deverá ser a economia, afetada pela queda no turismo e pela fuga de investidores em mais de três anos de instabilidade política. Os cofres do país têm recebido dinheiro da Árabia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Kwait, que apoiaram a queda da Irmandade Muçulmana, movimento visto pelos Estados petrolíferos do Golfo como uma ameaça.
Logo depois do anúncio do resultado oficial das eleições, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, anunciou que hoje era “um dia histórico”, depois de um “período de caos”. Ele também se comprometeu a organizar doações ajudar o país a superar a crise econômica. Desde a que Mursi deixou o poder, os três aliados já prometeram quase 12 bilhões de dólares em assistência financeira ao Egito.
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