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Nicarágua rejeita críticas sobre sua lei de terrorismo feitas pela ONU

Organização diz que a ampliação do conceito de "terrorismo" na nova legislação nicaraguense criminaliza protestos pacíficos

Por Da Redação
Atualizado em 18 jul 2018, 15h20 - Publicado em 18 jul 2018, 10h49
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  • O governo da Nicarágua expressou, na terça-feira 17, seu “mais enérgico protesto” pelas “declarações tendenciosas” da ONU, que se posicionou contra a lei de terrorismo aprovada pelo Parlamento do país. A Nicarágua está envolvida em uma crise política que deixou mais de 350 mortos nos últimos três meses, em alguns dos protestos mais violentos que a nação já viu desde sua independência.

    O Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) denunciou o texto, aprovado na última segunda-feira, cujo conteúdo “é muito vago e permite uma ampla interpretação” do que é terrorismo, podendo ser usado para criminalizar o protesto pacífico.

    “Rejeitamos energicamente esta grosseira manipulação por parte do Alto Comissário [frente ao] direito soberano e à obrigação do Estado da Nicarágua de legislar de acordo com as convenções e tratados internacionais, para evitar a lavagem de dinheiro e financiamento do terrorismo”, afirmou em resposta à ONU o Ministério das Relações Exteriores nicaraguense, por meio de uma nota.

    “Ao questionar esta lei, o Escritório do Alto Comissário se torna cúmplice precisamente de ações que nossa legislação, como Estado responsável, condena e que aprovamos de acordo com as convenções e instrumentos internacionais”, criticou o ministério.

    “Este tipo de declaração o transforma em cúmplice das ações que grupos terroristas realizaram, assassinando nicaraguenses e destruindo nosso país visando derrubar um governo constitucional, democraticamente eleito pelo nosso povo.”

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    A chancelaria advertiu que “questionar e manipular o direito soberano e vontade política da Nicarágua de fortalecer suas capacidades jurídicas, técnicas e operacionais para combater a lavagem de dinheiro, financiamento do terrorismo e outras atividades ilegais vai contra os princípios da Carta das Nações Unidas e a Ordem Jurídica Internacional”.

    A Lei contra Lavagem de Dinheiro, Financiamento ao Terrorismo e Proliferação de Armas de Destruição em massa impõe uma pena de quinze a vinte anos de prisão pelo crime de “terrorismo”. Ela passa a incluir nessa categoria “qualquer um que se propuser a alterar pelas vias de fato” a ordem jurídica e constitucional por meio dos bloqueios de estradas.

    Segundo o porta-voz do Escritório da ONU, Rupert Colville, a lei foi aprovada por um Congresso “quase totalmente controlado pelo governo”.

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    Masaya

    O governo nicaraguense também anunciou hoje que a polícia retomou o controle do bairro indígena de Monimbó, na cidade de Masaya, símbolo do movimento popular contra o presidente Daniel Ortega.

    Mais de 1.000 homens fortemente armados com metralhadoras entraram disparando na cidade, segundo moradores locais. O município possui 100.000 habitantes e está localizado a 30 quilômetros ao sul da capital, Manágua. Ao menos duas pessoas morreram no ataque, “uma mulher e um policial”, informou a presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez.

    Segundo testemunharam repórteres, as vias estavam bloqueadas por policiais de choque e paramilitares, que chegaram em 37 caminhonetes e cercaram Masaya para impedir que as pessoas entrassem ou saíssem da cidade. Rajadas de armas de diversos calibres eram ouvidas por todos os lados do município, contaram testemunhas.

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    “As balas estão atingindo a igreja de María Magdalena, onde o padre está refugiado”, escreveu no Twitter o arcebispo auxiliar de Manágua, Silvio Báez. “Estão metralhando as casas de maneira irresponsável, a mensagem é que se você colocar a cabeça para fora te matam, é uma mensagem de terror”, disse o secretário da Associação Nicaraguense de Direitos Humanos (ANPDH), Álvaro Leiva.

    O subsecretário de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental dos Estados Unidos, Francisco Palmieri, pediu “energicamente” ao presidente Ortega que não atacasse Masaya. “A contínua violência e o derramamento de sangue promovidos pelo governo da Nicarágua devem cessar imediatamente. O mundo está observando”, tuitou.

    Masaya foi a última etapa da chamada “operação limpeza”, que policiais e paramilitares iniciaram semanas atrás para desobstruir as ruas bloqueadas por manifestantes. Os protestos exigem a saída de Ortega, ex-guerrilheiro de 72 anos que governa o país desde 2007.

    (Com EFE e AFP)

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