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Nicarágua: governo libera 100 presos e acordo com oposição avança

Ciclo negociador é pressionado por queda da economia e isolamento internacional, agravado pelo enfraquecimento de Maduro, aliado do presidente nicaraguense

Por Da Redação 28 fev 2019, 01h28

Governo e oposição da Nicarágua acordaram, nesta quarta-feira 27, um “mapa do caminho” para as negociações retomadas com vistas a pôr um fim à grave crise que sacode o país, após a libertação de uma centena de presos que tinham sido detidos por protestar contra o presidente Daniel Ortega.

“Trabalhou-se na aprovação do mapa do caminho para o funcionamento das negociações”, anunciou o núncio apostólico Waldemar Stanislaw Sommertag em coletiva de imprensa, ao ler declaração ao final do encontro, na sede do Instituto Centro-americano de Administração de Empresas (INCAE), sul da capital.

No encontro, governo e oposição conseguiram entrar em acordo em nove de 12 propostas a ser discutidas no diálogo, que prosseguirá na quinta-feira, indicou o anúncio.

Participaram das conversas seis delegados do governo e seis da oposição, sob a mediação do cardeal católico Leopoldo Brenes, reunidos a portas fechadas na sede do Instituto Centro-americano de Administração de Empresas (INCAE), 15 km ao sul da capital, Manágua.

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“A Nicarágua merece um diálogo sério, transparente e concreto”, manifestou no Twitter a opositora Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia (ACJD), antes de iniciar as conversações.

Ortega anunciou na semana passada a vontade de retomar o diálogo para restaurar “a paz e a segurança” na Nicarágua e “abrir uma nova via” de entendimento, após dez meses de crise política que deteriorou a economia.

O chanceler Denis Moncada encabeça a delegação do governo, enquanto o jurista e ex-diplomata Carlos Tünnnermann lidera a da ACJD.

Presos libertados

Antes da instalação da mesa, o governo libertou cem dos mais de 700 opositores presos por participar dos protestos que estouraram em abril contra o governo de Ortega.

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A Polícia informou em um comunicado que os beneficiados, entre eles oito mulheres, foram libertados sob um regime de “convivência familiar (casa em troca da prisão) ou outras medidas cautelares”.

Entre os ex-detidos não estava nenhum conhecido dirigente opositor. O secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, celebrou o gesto e afirmou que “o caminho da libertação dos presos políticos retira os obstáculos e nos leva a soluções institucionais e democráticas”.

“Disseram-me que me dariam a casa [em troca] pela prisão”, expressou Carlos Valle, um dos libertados, que se disse feliz em poder voltar para sua residência.

“É um milagre estar novamente aqui”, disse o professor Juan Bautista Guevara, que após chegar ao lar denunciou ter sido torturado desde o dia que foi preso, em novembro passado.

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A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) saudou no Twitter o primeiro dia de diálogos e lembrou a importância que neste processo “devem ter o acesso à verdade, justiça, reparação e garantias de não repetição” especialmente para as vítimas.

A OEA e o Parlamento Europeu váo acompanhar “de perto a situação para que cesse a repressão da imprensa e da sociedade civil. Se não houver resoltados, as medidas chegarão”, escreveu no Twitter seu presidente, o italiano Antonio Tajani.

Antes do início das negociações, também tomou-se conhecimento do adiamento do julgamento previsto para esta quarta-feira do acadêmico Ricardo Baltodano, irmão da ex-guerrilheira e dissidente sandinista Mónica Baltodano, que apoiou os protestos.

Mais de uma centena de audiências foram adiadas desde a sexta-feira, entre elas as de sete dirigentes entre os quais está a belgo-nicaraguense Amaya Coppens.

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Após o início do diálogo, um grupo de jovens foi protestar contra o governo em frente à Catedral, no centro da capital, o que provocou a imediata mobilização de mais de uma centena de policiais na região.

Enquanto isso, moradores denunciavam nas redes sociais capturas policiais de alguns jovens nas cidades de Masaya (sul) e Jinotega (norte).

Contato inicial

Esperava-se que as partes do diálogo apresentassem nesta quarta-feira suas propostas e condições de negociação para definir a metodologia do processo, disseAzahálea Solís, da equipe de negociação da ACJD.

As duas partes voltaram a se encontrar nove meses depois de uma negociação fracassada mediada pelo episcopado, durante a violenta repressão dos protestos antigovernamentais, nos quais morreram pelo menos 325 pessoas, 700 foram detidas e milhares se exilaram em países vizinhos.

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Ortega, de 73 anos, alegou naquela rodada de diálogo que os opositores e a Igreja pretendiam tirá-lo do governo ao propor uma agenda de reformas, que incluía antecipar as eleições de 2021.

Nesta ocasião, o bloco opositor que reúne empresários, estudantes, camponeses e organismos da sociedade civil proporia a participação de “garantidores internacionais”, como a OEA e as Nações Unidas.

Sua prioridade no diálogo será “a libertação dos presos políticos, a liberdade de expressão, de mobilização e a antecipação das eleições”, afirmou Solís.

Isolamento e crise

O governo participa do novo ciclo negociador pressionado pelo colapso da economia e o isolamento internacional, agravado pela turbulência vivida na Venezuela de seu aliado, Nicolás Maduro.

“Ortega aceitou dialogar porque a resistência civil continua firme, pelo isolamento internacional, a situação (de crise) naVenezuela e porque a economia está em queda livre”, avaliou Solís.

“O enfraquecimento de Maduro debilita Ortega”, concordou a ex-guerrilheira sandinista Dora María Tellez, que considera que o governo se senta para negociar com “a corda no pescoço”.

A crise política impactou duramente a economia do país, que encolheu4% em 2018 e perdeu mais de 300.000 postos de trabalho. A projeção para este ano é de uma queda do PIB de 11% e mais desemprego, seguindo grêmios econômicos. O governo, no entanto, prevê uma contração de 1% para este ano.

(Com AFP)

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