Netanyahu, o grande perdedor de Viena
Obama defendeu o acordo nuclear iraniano para o primeiro-ministro israelense, que sempre se posicionou contrário ao pacto
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, conversou por telefone nesta terça-feira com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e garantiu que o acordo alcançado “eliminará o espectro de um Irã com armas nucleares” e ressaltou o “incondicional” apoio dos EUA à segurança de Israel. Mais cedo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, qualificou o acordo como “um grande erro de proporções históricas” e afirmou que o governo iraniano “terá o caminho livre para desenvolver armas nucleares”.
Netanyahu se tornou o grande perdedor de Viena depois de o Grupo 5+1 fechar o pacto nuclear nesta terça-feira – a capital austríaca foi o palco das negociações. Durante mais de três anos, o primeiro-ministro israelense repetiu sempre que pôde suas incessantes advertências sobre o perigo de permitir que o Irã desenvolvesse um programa nuclear e foi o dirigente mais abertamente contrário a qualquer pacto atômico com Teerã.
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Sua rejeição plena às negociações nucleares levou a sérios atritos com seu principal aliado, os Estados Unidos, que chegaram a tratar sua insistência como intromissão em sua política interna. Esta irritação chegou ao seu ponto máximo em março, quando sem o consentimento da Casa Branca, Netanyahu se apresentou ao Congresso americano (de maioria republicana) para pedir a oposição ao pacto assinado hoje, que representa o fim de 13 anos de litígio com a República Islâmica.
O Congresso dos EUA é a última esperança dos dirigentes israelenses de parar o que consideram “um pacto ruim” e um risco existencial para seu país – o Congresso precisa revisar e aprovar o acordo para autorizar o governo dos EUA a suspender as sanções diplomáticas e econômicas que afetam o Irã. “Israel parece ter aceitado com má vontade a inevitabilidade do acordo nuclear iraniano e agora centra seus esforços em conter a aprovação do acordo no Congresso”, afirmou nessa terça o jornal israelense Yedioth Ahronoth, que citou um assessor de Netanyahu, assegurando que esse é “a última linha de defesa contra um pacto ruim”.
A forma como o primeiro-ministro tem lidado com a questão iraniana nos últimos anos foi também duramente criticada por políticos israelenses. O chefe da oposição, o trabalhista Isaac Herzog, destacou em declarações ao Yedioth Ahronoth que o acerto do pacto é “resultado de uma falha pessoal e exclusiva de Netanyahu, que deu prioridade à sua vitória (eleitoral) em detrimento da relação com os EUA e dos interesses de segurança de Israel”. O presidente do partido Yesh Atid e ex-ministro, Yair Lapid, chegou inclusive a pedir a renúncia de Netanyahu. “Pela forma como administrou o assunto no último ano, a porta da Casa Branca estava fechada para ele. Tem de renunciar porque sabe, melhor do que ninguém, que enquanto ele for primeiro-ministro os americanos não nos escutarão”, disse ao jornal Maariv.
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Durante o telefonema com o israelense, Obama tentou acalmar Netanyahu ao insistir que o compromisso selado com o Irã “não diminui as preocupações sobre o apoio ao terrorismo e as ameaças rumo a Israel”. Neste sentido, apontou que a viagem do secretário de Defesa dos EUA, Ash Carter, a Israel semana que vem é um reflexo do nível de cooperação em segurança “sem precedentes” entre os dois países. Por último, o presidente americano reiterou que permanecerão “atentos em resistir às atividades desestabilizadores do regime iraniano na região”.
(Da redação com agência EFE)