Manesh Shrestha.
Katmandu, 28 mai (EFE).- O Nepal realizará eleições em novembro deste ano com o objetivo de encerrar o bloqueio institucional causado pela falta de acordo sobre uma nova Constituição, quatro anos depois da queda da monarquia.
O maoísta Baburam Bhattarai, primeiro-ministro há nove meses (quarto chefe de governo em quatro anos) admitiu hoje em um discurso pela televisão: ‘Fracassamos… não há outro remédio senão convocar eleições’.
Desde 2008, quando a República foi proclamada e se realizaram as primeiras eleições livres do Nepal, os partidos majoritários não conseguiram redigir uma nova Constituição e focaram seus esforços para decidir quem iria liderar o governo.
A Assembleia Constituinte, formada por 601 deputados, adiou por diversas vezes a aprovação da nova Carta Magna por falta de acordo entre os partidos, até que a Suprema Corte estabeleceu que ontem foi a data limite para se conseguir um pacto nacional.
Bhattarai atribuiu hoje o fracasso das negociações aos conflitos entre as forças ‘progressistas’ e reacionárias. Além disso, ele pediu otimismo ao povo nepalês e disse que espera que a população atue para que as eleições ‘sejam um sucesso’.
O presidente nepalês, Ram Baran Yadav, do Partido do Congresso, se encontrará amanhã com os líderes políticos do país para definir a viabilidade política das eleições, segundo disse à Agência Efe o assessor presidencial Rajendra Dahal.
‘Geralmente, quando se convocam novas eleições, o primeiro-ministro deixa o cargo e o governo passa a ser interino, mas neste caso o primeiro-ministro não renunciou’, afirmou Dahal.
Em sintonia com o Partido do Congresso, agora na oposição após ter ocupado a chefia de governo, alguns membros rebeldes do governante Partido Maoísta pedem a renúncia de seu correligionário Bhattarai e a criação de um Executivo provisório.
Já o Partido Democrático Nacional, única grupo que apoia a monarquia, recebeu com otimismo a convocação de eleições. O principal ponto de atrito entre os partidos políticos é a estrutura territorial do país e a criação das províncias.
O Partido Maoísta de Bhattarai e os partidos regionalistas do sul do país defendem que a Constituição estabeleça o número de províncias que terá o Estado e exigem um critério étnico para as demarcações.
Por sua parte, o Congresso nepalês prefere uma estrutura regional baseada na viabilidade econômica e ao lado do Partido Marxista- Leninista defende que a configuração territorial seja decidida no Parlamento e não fique fixada na Constituição.
O debate sobre os critérios étnicos centrou a agenda política nas últimas semanas, quando ocorreram numerosos enfrentamentos e inclusive uma greve geral de três dias por causa do assunto.
Os cerca de 27 milhões de habitantes do Nepal se dividem numa série de grupos de base hindu, a religião majoritária do país, que são regidos pelo sistema de castas, e outros segmentos minoritários.
A crise institucional causada pela falta de um acordo político provocou, segundo diferentes relatórios, um imenso desperdício para o Nepal, um dos países mais pobres do mundo, já que este processo custou cerca de US$ 100 milhões de dólares.
A queda da centenária monarquia nepalesa ocorreu após uma sangrenta guerra civil que durou dez anos e deixou mais de 15 mil mortos nos enfrentamentos entre as forças governamentais e a guerrilha maoísta.
Um dos principais passos para a normalização institucional foi o acordo alcançado em abril passado para a reintegração dos 19.602 ex-combatentes da guerrilha, que foram em boa parte incorporados ao Exército do Nepal. EFE