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Negociações de 2010: uma esperança fugaz

Grupos radicais e vizinhos inimigos podem atrapalhar processo de paz, diz especialista

Por Cecília Araújo
3 set 2010, 20h37

“Se tivéssemos uma situação completamente oposta, em que o governo israelense obtivesse apoio da maioria, a autoridade palestina tivesse o poder de controlar os dissidentes e o mediador americano estivesse em condições de pressionar os dois lados, poderíamos dizer que existe otimismo e condições de bons resultados para as negociações”

Qualquer esperança que tenha surgido após o início das negociações diretas entre os líderes israelense, Benjamin Netanyahu, e o palestino, Mahmoud Abbas, parece fugaz. Embora ambos tenham apresentado os primeiros sinais de que estão dispostos a manter as conversações, ainda terão que enfrentar a oposição de parte de seu próprio povo, de outros países, além de facções terroristas, para de fato conseguirem colocar fim a um conflito de seis décadas. Alguns opositores já prometem ondas de ataques e ameaçam qualquer possibilidade de paz.

Nesta sexta-feira, um dia depois de Netanyahu e Abbas trocarem apertos de mãos em Washington, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou que as negociações estão fadadas ao fracasso. O ditador, que já disse que Israel deve ser “riscado do mapa”, criticou alguns líderes muçulmanos e pediu aos palestinos que mantenham sua luta armada. Além disso, na última quinta-feira, o grupo radical Hamas declarou que grupos de militantes palestinos decidiram unir forças e intensificar os ataques contra os israelenses, incluindo atentados suicidas.

Para Ahmadinejad, “a questão palestina não pode ser resolvida por meio de conversas com os inimigos”. Ainda acrescentou que “resistir é a única forma de resgatar os palestinos”, insistindo que os Estados Unidos, mediadores das conversas, foram os responsáveis por criar o conflito. Isso porque o Irã não reconhece Israel e prega repetidamente a destruição do país como única solução para o conflito do Oriente Médio. Com esse objetivo, o governo iraniano apoia os grupos militantes Hezbollah, Hamas e Jihad Islâmica na sua luta contra o estado judeu.

Hillary Clinton entre o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abba em Washington
Hillary Clinton entre o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abba em Washington (VEJA)
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Riscos de mais um fracasso – Após o histórico aperto de mãos entre o líder palestino Yasser Arafat e o primeiro-ministro Yitzhak Rabin na Casa Branca em 1993, o otimismo em relação à paz no Oriente Médio durou pouco tempo. Rabin foi morto apenas dois anos depois, por um fanático israelense contrário ao diálogo com os palestinos. Já Arafat morreu em 2004, sem ver a criação de um estado palestino na região. Outros acordos que foram feitos posteriormente também fracassaram. Os riscos de acontecer algo parecido após as negociações de 2010 permanecem.

O cientista político Samuel Feldberg, especialista em Oriente Médio e integrante do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo, não vê nenhuma esperança a curto prazo. “As circunstâncias não são favoráveis a um acordo, pois temos uma liderança palestina completamente dividida e uma forte oposição por parte considerável dos israelenses”, pontuou. Segundo ele, uma estabilidade é impossível enquanto o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, se opuser a qualquer negociação. Do outro lado, mesmo que Netanyahu firme um acordo com Abbas, seria preciso ainda uma retificação no Parlamento israelense, pois o governo atual não possui maioria suficiente para que qualquer concessão seja colocada em prática.

Para Feldberg, outro fator que dificulta as negociações é o fato de o presidente americano Barack Obama se encontrar em período pré-eleitoral (as eleições legislativas ocorrem em novembro deste ano) e diante da possibilidade de os Democratas serem derrotados. “Com isso, Obama não pode arriscar tomar atitudes que possam custar seu apoio no Congresso”, explicou. “Se tivéssemos uma situação completamente oposta, em que o governo israelense obtivesse apoio da maioria, a autoridade palestina tivesse o poder de controlar os dissidentes e o mediador americano estivesse em condições de pressionar os dois lados, poderíamos dizer que existe otimismo e condições de bons resultados para as negociações”, completou.

Os inimigos estão ao lado – Dentre os vizinhos de Israel, o Egito, que já foi seu principal inimigo, hoje mantém um acordo de paz formal com o país. Porém, na prática, os lados não têm a aproximação desejada, que incluiria um relacionamento diplomático, cultural e até turístico. “Com isso, é uma relação frágil, que tende a se desmantelar com uma troca de governo, por exemplo”, indicou o cientista político. A Síria, que sempre manteve um estado de guerra com Israel, obteve avanços em negociações no início da década passada. No entanto, elas têm sido abandonadas, o que ameaça a atual trégua.

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Além disso, o Irã está avançando em direção às armas nucleares e mísseis de longo alcance, e os israelenses veem o país como ameaça potencial. “Também não se pode descartar retirada das tropas americanas do Iraque, governo historicamente hostil a Israel, o que diminui sensivelmente a tranquilidade que se instalou na relação entre os países”, completou Feldberg.

De acordo com o professor, “observamos um conflito entre Israel e forças não-regulares, como o Hamas e o Hezbollah, capazes de causar danos a qualquer acordo.”

Clique na imagem abaixo para entender as tensas relações entre israelenses e palestinos:

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As primeiras negociações diretas de paz entre israelenses e palestinos em 20 meses foram abertas nesta quinta-feira
As primeiras negociações diretas de paz entre israelenses e palestinos em 20 meses foram abertas nesta quinta-feira (VEJA)
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