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Na corda bamba, governador de NY enfrenta denúncias de assédio sexual

Depois de atingir o auge do prestígio no combate à pandemia, Andrew Cuomo agora vê sua reputação rolar ladeira abaixo

Por Caio Saad Atualizado em 12 mar 2021, 10h56 - Publicado em 12 mar 2021, 06h00

Em meados do ano passado, quando Nova York vergava sob o peso de epicentro da disseminação do novo coronavírus nos Estados Unidos, o governador Andrew Cuomo ganhou aura de herói: de mangas arregaçadas, ar zangado e frases cortantes, dava entrevistas coletivas diárias desancando os desatinos de Donald Trump, clamando por recursos e instando a população a ficar em casa e usar máscara. Recebeu do Legislativo estadual, inclusive, superpoderes para lidar com a crise — além de um Emmy, o Oscar da TV americana, pela “mestria no uso da televisão para informar e acalmar as pessoas”. Nem um ano se passou e Cuomo, um político ao mesmo tempo mandão, arrogante e cativante, está comendo o bagel que o diabo amassou. Primeiro foi a revelação de que, a certa altura da crise, manipulou dados para diminuir o número real de óbitos entre idosos. Agora é o desfile de moças que resolveram expor variados episódios de assédio envolvendo Cuomo — até quinta-feira 11, o número estava em seis, e subindo.

A primeira a falar foi Lindsey Boylan: na última semana de fevereiro, a ex-assessora da agência de desenvolvimento econômico do estado descreveu, em um longo texto na internet, os anos de assédio que sofreu de Cuomo, que “fazia de tudo para me tocar nas costas, braços e pernas”, convidou-a para “uma partida de strip poker” e, uma vez, “postou-se na minha frente e me beijou na boca”. Dias depois foi a vez de Charlotte Bennett, ex-assessora de 25 anos, relatar uma reunião a dois em que o governador, de 63, lhe perguntou se já havia feito sexo com um homem mais velho e se achava que a idade importava. “Entendi que queria dormir comigo e me senti terrivelmente desconfortável e receosa”, diz Lindsey, que reportou o episódio e foi transferida (ela deixou o emprego em novembro).

PRESSÃO - Cuomo: pedido de desculpas, com a ressalva de que seu “jeito brincalhão” teria dado uma impressão errada
PRESSÃO - Cuomo: pedido de desculpas, com a ressalva de que seu “jeito brincalhão” teria dado uma impressão errada (David Dee Delgado/Getty Images)

A terceira, Anna Ruch, de 33 anos, não trabalhava no governo e conta que, batendo papo com Cuomo em um casamento, de repente ele pôs as mãos no seu rosto e perguntou se podia beijá-­la. “Virei a cabeça, sem saber o que dizer”, recorda-se. Uma quarta assessora descreveu um “abraço íntimo”, a quinta falou em indagações sobre sua vida amorosa e beijos na mão e a sexta teria sido “tocada de maneira imprópria” (segundo relato de terceiros, ele a apalpou por baixo da blusa). No dificílimo equilíbrio de livrar a própria barra sem desmerecer as acusadoras, o governador, que não é lá de se desculpar, esmerou-se: “Se elas ficaram ofendidas, peço desculpas. Se se sentiram feridas, peço desculpas. Se foi dolorido, peço desculpas. Não tive a intenção, mas, se foi assim que se sentiram, é isso o que importa, e eu peço desculpas”. Ao mesmo tempo, desmentiu tudo, atribuindo as denúncias a seu “jeito brincalhão” e “piadista” e proclamou, categórico: “Nunca encostei em ninguém de maneira imprópria”.

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Sexo já arruinou inúmeras carreiras políticas nos Estados Unidos, herança das raízes puritanas dos fundadores da nação. Em tempos de #MeToo, no entanto, o Cuomogate mostra que a régua subiu: a simples percepção de intenção sexual bastou para abalar os alicerces de um dos políticos mais poderosos do Partido Democrata, ex-marido de uma Kennedy (Kerry, filha de Robert), admirado pelo estilo “rústico” e, sim, pelos atributos físicos: foi um dos homens mais sexy do mundo da revista People em 2010. As acusações de assédio foram encaminhadas à secretária de Justiça de Nova York, Letitia James, que ordenou a preservação de todas as mensagens e documentos relativos à questão e designou dois juristas para examinar a veracidade dos relatos. No Senado estadual, a democrata Rachel May disse que, “se for verdade, todos os que mentiram devem renunciar imediatamente — inclusive o governador” —, mesma sugestão dada pela líder democrata na Casa, Andrea Stewart-Cousins (“Não há hipótese”, rebateu Cuomo). Os republicanos, por sua vez, falam em impeachment. “O gabinete do governador quer uma análise minuciosa e independente, que fique acima da censura e da interferência política”, disse Beth Garvey, assessora especial do governador, em nota a VEJA. No terceiro mandato, com intenções de chegar ao quarto, Cuomo, transformado em anti-herói, luta para salvar seu futuro.

Publicado em VEJA de 17 de março de 2021, edição nº 2729

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