Mubarak vai ceder o poder aos militares, diz autoridade
Segundo um funcionário do governo, este não seria um ‘golpe tradicional’
Uma autoridade sênior do governo egípcio não identificada revelou à rede CNN que o presidente Hosni Mubarak deve anunciar na noite desta quinta-feira que vai ceder o poder aos militares do país. Segundo ele, o processo – incluindo o diálogo entre o governo e representantes da oposição – para implementar reformas e possibilitar uma transição política natural fracassou e, por isso, Mubarak está sendo forçando a renunciar à sua “autoridade constitucional”.
“Este não é um golpe no sentido tradicional da palavra”, disse a fonte. “É uma transferência do sistema governamental dos civis para os militares. O Exército vai assumir o poder, reconhecendo sua responsabilidade com o povo egípcio”, acrescentou. Segundo ele, o governo se esforçou em tentar reformas dentro da lei do país, mas o processo nunca teve apoio o suficiente, nem mesmo por parte da comunidade internacional. “Agora temos que tentar algo fora do âmbito constitucional”, pontuou.
De acordo com a TV estatal, Mubarak se reuniu com o vice-presidente, Omar Suleiman, e o primeiro-ministro, Ahmed Shafiq, a portas fechadas e deve falar à nação da sede presidencial na noite desta quinta-feira. Esta será a terceira vez que o presidente se expressa publicamente desde o início dos protestos, no dia 25 de janeiro. Ainda não está claro qual será o discurso de Mubarak, mas os manifestantes já parecem ter uma resposta: “Civis, civis, não militares”, gritam eles.
O Exército, contudo, já manifestou sua posição publicamente: “tomarão todas as medidas necessárias para proteger a nação” e vão garantir apoio às demandas legítimas do povo”. A televisão egípcia interrompeu toda a programação para apresentar uma gravação de um painel de oficiais militares lendo um texto, apresentado por eles como o “comunicado número um” do Conselho Supremo das Forças Armadas.
O comunicado diz que “baseado na responsabilidade das Forças Armadas e em seu comprometimento para proteger o povo e sua diligência em proteger a nação, e em apoio às legítimas demandas do povo, o Exército continuará se reunindo continuamente para examinar medidas tomadas para proteger a nação e os ganhos e ambições do grande povo egípcio.”
Normalmente, o Conselho Supremo das Forças Armadas é comandado pelo próprio Mubarak. Nesta quinta-feira, porém, a reunião foi liderada pelo ministro da Defesa, Mohamed Tantawi, informou a rede Al-Jazira. O comunicado dos militares foi recebido com alegria pelos manifestantes na Praça Tahrir.
Apostas – Outra possibilidade é a transferência do poder de Mubarak para o seu vice, Omar Suleiman. Mas os manifestantes – que estão pelo 17º dia consecutivo nas ruas do Caairo – são contra a ideia. O Movimento 6 de Abril, que começou a onda de reivindicação popular, exigiu a renúncia dos dois. Mubarak é acusado pela população de promover um governo corrupto, além de não cuidar das condições econômicas e sociais do país. Em comunicado postado em seu site, o grupo rejeitou o plano proposto na última terça-feira para introduzir reformas constitucionais e exigiu a saída imediata do presidente.
A oposição também não aceita que o vice assuma o poder. Os jovens do Movimento 6 de Abril condenaram o tratamento “inaceitável” dado aos manifestantes por parte dos serviços secretos. Em nota, o grupo afirma ainda que “o estilo dos serviços secretos impresso por Omar Suleiman (ex-chefe dos serviços de inteligência) em seu tratamento com os manifestantes na praça de Tahrir é inaceitável”.