O Ministério Público de Paris anunciou nesta sexta-feira, 6, que vai insistir no julgamento das companhias Air France e Airbus, em recurso contra a decisão de juízes de instrução encarregados da investigação do acidente com o voo AF447 Rio de Janeiro-Paris, que deixou 228 mortos em 2009.
No Brasil, a investigação continua aberta. No total, 59 brasileiros morreram no episódio.
Em julho, o MP de Paris havia se pronunciado em favor da companhia aérea francesa, acusada de negligência e imprudência, mas havia descartado o julgamento para a fabricante de aeronaves. A recomendação não foi seguida pelos juízes de instrução, que consideraram as acusações contra as duas empresas, feitas em 2011, insuficientes para justificar um julgamento.
O Airbus que conduzia o voo AF447 caiu no Oceano Atlântico em 1º de junho de 2009. Todos os passageiros e tripulantes, de 34 diferentes nacionalidades, morreram no acidente. Esta foi a pior tragédia da história da companhia francesa.
Ponto de partida do desastre: a formação de gelo nas sondas de medição Pitot, que levou à interrupção nas medições de velocidade do Airbus e desorientou os pilotos até a aeronave parar.
Em parecer de 189 páginas, assinado em 29 de agosto, os juízes Nicolas Aubertin e Fabienne Bernard estimaram que o “acidente se deveu claramente a uma combinação de fatores que nunca havia ocorrido antes e que, portanto, demonstrou os perigos que não podiam ser percebidos antes do acidente”.
As investigações deviam determinar a possibilidade de atribuir responsabilidade indireta do acidente à companhia aérea e à fabricante Airbus. Mas foi as apurações “não levaram a caracterizar uma decisão ilícita da Airbus, ou da Air France, em relação aos (…) erros de pilotagem que causaram o acidente”, apontaram os juízes.
Famílias das vítimas
A decisão provocou a ira das associações de parentes das vítimas. “Como não pensar que essa decisão se deu por interesses econômicos que se sobrepuseram aos da Justiça?”, denunciou o coletivo Entraide et Solidarité AF447.
O presidente da associação de vítimas brasileiras do voo AF447, Nelson Faria Marinho, disse estar “indignado” com o que classificou de “decisão absurda e corporativista”. Olivier Morice, advogado de várias famílias de vítimas, disse estar “surpreso” com a decisão e anunciou sua intenção de recorrer.
Desde o início da investigação, os especialistas travam uma batalha sobre as responsabilidades pela série de erros que levaram ao acidente. As partes civis acreditam que ambas as empresas, Air France e Airbus, devem responder à Justiça.
Em uma tentativa nessa direção, os parentes das vítimas apresentaram um relatório aos tribunais franceses em 8 de agosto mostrando, segundo eles, que a Airbus sabia desde 2004 dos problemas de suas sondas que controlam a velocidade de seus aviões.
Procuradas pela AFP na quinta-feira 5, a Air France e a Airbus não quiseram comentar a decisão.
(Com AFP)