Jacques Chirac: O camaleão da República francesa
Ex-presidente francês morreu na quinta-feira 26 de causas não reveladas pela família, em Paris
Jacques Chirac era um político de centro-direita de extrema plasticidade ideológica, capaz de passear com desenvoltura de um lado e de outro das divisões francesas, sempre muito definidas. Para o jornal Libération, foi um camaleão.
Duas vezes eleito presidente da República (em 1995 e em 2002) e duas vezes primeiro-ministro (1974 e 1986), ele gostava de cultivar a imagem de boa gente, simpático e dado a aparecer como um cidadão comum, que celebrava seu pouco gosto pela leitura — deixava-se fotografar sorvendo litros de cerveja, louvava as omeletes que comia na madrugada e distribuía apertos de mãos entre adultos e abraços em crianças (um pouco ao modo de Paulo Maluf em seus tempos áureos, até mesmo nas denúncias de corrupção durante o período como prefeito de Paris).
Conservador nos costumes e liberal na economia, foi sempre um sujeito de difícil tradução. Como secretário de Estado do general De Gaulle, em 1968, andava pelas ruas parisienses com um revólver na maleta de mão. Antes, confessara sua admiração pela postura de Nelson Mandela no Partido Comunista da África do Sul. De 1986 a 1988, participou com François Mitterrand, o presidente socialista, de um momento histórico: a chamada “coabitação”, com o chefe de Estado atrelado à porção esquerda do ideário público e o chefe do governo (ele, Chirac), à franja direita. Tinha 86 anos. Morreu na quinta-feira 26 de causas não reveladas pela família, em Paris.
Publicado em VEJA de 2 de outubro de 2019, edição nº 2654