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Miséria prolongada

Assembleia não reconhece posse de Maduro, pressão internacional quer sua renúncia — mesmo assim, ele inicia mais um mandato de seis anos no país exaurido

Por Thais Navarro
Atualizado em 30 jul 2020, 19h58 - Publicado em 11 jan 2019, 07h00

Vergados sob problemas que vão de inflação e desabastecimento a serviços de saúde paralisados e pura e simples fome, os venezuelanos viram na quinta 10 o presidente Nicolás Maduro tomar posse para seu segundo mandato não perante a Assembleia Nacional, como manda a Constituição, mas ao Supremo Tribunal de Justiça (STJ). O motivo é simples: a Assembleia, eleita em 2015, na última votação confiável do país, é dominada pela oposição — o que não quer dizer muito, já que não detém poder algum. Já o STJ é de confiança, com cadeiras preenchidas a dedo por aliados do governo.

Confiança, em termos: no domingo 6 um dos juízes, Christian Zerpa, apareceu de surpresa em Miami disparando denúncias contra o regime (“uma ditadura explícita”) e afirmando ter fugido do país por não querer compactuar com a posse. A reeleição de Maduro para mais seis anos na Presidência, em maio último, foi cercada de denúncias de fraude e pressão indevida sobre os eleitores. A Assembleia abriu o novo ano legislativo — na presença unicamente da oposição e de representantes de países contrários ao governo Maduro — com dois atos. Um foi eleger um novo presidente, o deputado Juan Guaidó. O outro foi exigir que Maduro desista do segundo mandato — o mesmo pedido feito pelo Grupo de Lima, associação de países que inclui o Brasil e que preparou um documento de não reconhecimento da posse. Maduro reagiu prometendo “medidas urgentes e duras” contra seus integrantes. “A exigência só serve para ressaltar a fraqueza da Assembleia ante uma estrutura cada vez mais autoritária”, diz a cientista política Consuelo Cruz, professora de América Latina na Universidade Tufts, em Massachusetts, nos Estados Unidos.

Engenheiro industrial de 35 anos, Guaidó milita no Voluntad Popular, partido do líder oposicionista Leopoldo López (preso desde 2014), e vem ganhando relevância na resistência a Maduro. “A partir de agora, ele estará à frente da luta por mudança na Venezuela”, avalia Luis Vicente Leon, analista político de Caracas. O mesmo Leon, em entrevista à revista inglesa The Economist, considera, porém, que a única ameaça real a Maduro neste momento vem “de dentro do chavismo” — dos aliados que ficaram bilionários com contrabando e outros negócios escusos sob vista grossa das autoridades e, quando a fonte secar, podem mudar de lado.

Segundo os dados mais recentes, a inflação da Venezuela é de 1 370 000% ao ano, o bolívar soberano instituído em agosto com cinco zeros a menos do que a moeda anterior já perdeu 95% do valor em relação ao dólar, a produção de petróleo, sustentáculo da economia, está abaixo do nível de 1950 e 3 milhões de venezuelanos — 10% da população — já deixaram o país. Mesmo nessa situação dramática, ninguém se arrisca a prever mudança em breve. “Maduro assumirá seu novo mandato sem legitimidade, mas com o apoio dos militares e de setores da sociedade”, diz Edmund Amann, professor de América Latina na Universidade Leiden, na Holanda. “Como não conseguirá aprovar nada pela via legislativa, ele deve consolidar ainda mais seu caráter de autocrata.” Pobre Venezuela.

Publicado em VEJA de 16 de janeiro de 2019, edição nº 2617

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