O ministro dos Esportes, Orlando Silva, que ocupa uma pasta-chave na organização da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016, é o quinto membro do governo de Dilma Rousseff acusado de corrupção e será investigado pela polícia e pela justiça.
O ministro Orlando Silva nega taxativamente as acusações, mas a imagem do país, que teve quatro ministros derrubados em poucos meses devido a acusações de corrupção, já foi prejudicada, consideram especialistas.
“A imagem do país certamente foi afetada. (A pasta dos Esportes) é uma área muito vulnerável, muito visível, responsável pelos preparativos para a Copa do Mundo”, disse nesta terça-feira à AFP o cientista político Fernando Lattman-Weltman, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas.
“O dano causado à credibilidade do país para sediar a Copa e os Jogos (Olímpicos de 2016) é muito grande. Se a denúncia tiver fundamentos, deve ser investigada imediatamente”, acrescentou.
O ministro foi acusado por um policial de liderar um esquema de desvio de dinheiro público para ONGs ligadas ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB), e de receber subornos na garagem do ministério, em um artigo publicado no fim de semana pela revista Veja.
O policial, que também pertencia ao PCdoB, dirigia duas organizações de kung-fu e foi detido no ano passado, acusado de se apropriar indevidamente do dinheiro destinado a um programa do governo de estímulo às práticas esportivas entre jovens carentes.
“Quero rejeitar a publicação de informações que são falsas, que não têm consistência”, disse o ministro nesta terça-feira ao se defender das denúncias no Congresso. O ministro chamou o policial que o acusou de “delinquente” e advertiu para o risco da instauração no Brasil de “uma inquisição moderna”, na qual “as pessoas são acusadas sem provas”.
Orlando Silva pediu na segunda-feira para ser investigado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, que anunciaram que pretendem convocá-lo para que dê explicações, após o seu retorno de Guadalajara (onde são disputados os Jogos Pan-Americanos).
A presidente Dilma Rousseff não assumiu pessoalmente a defesa de seu ministro, mas ressaltou a presunção de inocência.
“Nós não só presumimos a inocência, com ele tem se manifestado com muita indignação em relação às acusações. O governo acompanha atentamente todas as denúncias, os esclarecimentos e as investigações”, disse Dilma na segunda-feira em Pretória, onde participa de uma cúpula com seus homólogos de África do Sul e Índia.
A presidente disse, no entanto, que é preciso endurecer as regras para enfrentar “fragilidades nos convênios” do governo com as ONGs.
Segundo a imprensa brasileira, a posição de Silva pode ser mais prejudicada se a Fifa ou o Comitê Olímpico Internacional pressionarem por sua saída.
“Este é um caso típico do Brasil, que confirma a grande vulnerabilidade do Estado frente à corrupção devido à maneira como é administrado”, disse à AFP Cláudio Abramo, diretor da Transparência Brasil.
“O governo distribui tradicionalmente milhares de cargos no governo em troca de apoio político. É isto que gera corrupção”, explicou.
Abramo indicou que o Brasil atribui por critérios políticos 90.000 cargos só no governo federal (sem levar em conta os governos dos estados e municípios), contra cerca de 9.000 nos Estados Unidos, 500 em Alemanha e França e por volta de 300 no Reino Unido.
A queda de quatro ministros em 100 dias, após acusações de corrupção, e escândalos no Congresso, inspiraram protestos convocados por meio das redes sociais, exigindo uma “limpeza” na administração pública.
Dilma é vista como uma presidente que tenta enfrentar a corrupção com maior determinação do que Lula, e vê sua popularidade alcançar bons índices, atualmente em 71%.
Após um bombardeio de denúncias na imprensa, em setembro o ministro do Turismo, Pedro Novais, renunciou; em agosto foi o da Agricultura, Wagner Rossi; e antes caíram o dos Transportes, Alfredo Nascimento, e o ministro chefe da Casa Civil, Antonio Palocci.