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Militares do Sudão suspendem negociações e anunciam eleições em nove meses

Mais de 30 pessoas morreram em distúrbios na capital Cartum nesta semana

Por AFP 4 jun 2019, 02h32

Os militares que governam o Sudão anunciaram, nesta terça-feira 4, a suspensão das negociações com a oposição e a realização de eleições no prazo de nove meses, um dia após distúrbios que deixaram mais de 30 mortos em Cartum.

Em mensagem à Nação, o chefe do Conselho Militar do Sudão, Abdel Fatah al Burhan, disse que o Conselho Militar “decidiu cessar as negociações com a Aliança pela Liberdade e a Mudança, cancelar o acertado e realizar eleições gerais dentro de nove meses”.

Segundo Burhan, as eleições serão realizadas sob “supervisão regional e internacional”.

Na segunda-feira, os militares dispersaram à força o acampamento popular montado há várias semanas diante de seu quartel-general em Cartum, uma operação que deixou mais de 30 mortos, segundo o Comitê Central de Médicos Sudaneses.

Organização ligada aos manifestantes, o Comitê disse ainda que é grande o número de pessoas gravemente feridas e pediu “apoio urgente” ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha e a outras organizações humanitárias.

Membros das forças de segurança fortemente armados e em veículos com metralhadoras se deslocaram por toda capital. Tiros foram ouvidos na área do acampamento.

Na mensagem desta terça-feira, Burhan garantiu que o “Conselho Militar fará uma investigação sobre os eventos” da véspera e convidou o procurador-geral a “se encarregar do caso”.

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Estados Unidos e Reino Unido pediram o fim imediato da repressão dos manifestantes, que primeiro exigiram a queda de Omar al-Bashir e, agora, desejam a saída do poder dos militares que assumiram o governo em substituição ao presidente destituído.

Alemanha e Reino Unido solicitaram uma reunião do Conselho de Segurança para discutir a crise, o que deve ocorrer já nesta terça-feira, segundo fontes diplomáticas.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou o uso excessivo da força e pediu uma investigação independente que leve os responsáveis à Justiça.

Em um comunicado, Guterres disse estar “alarmado” com as informações de que as forças de segurança sudanesas teriam aberto fogo dentro de um hospital.

“O que está claro para nós é que houve um uso excessivo da força por parte das forças de segurança sobre civis. Pessoas morreram, pessoas ficaram feridas”, disse o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.

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Em um comunicado separado, a alta comissária para os Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, também condenou o “uso excessivo da força”, especialmente a utilização de “balas reais”, contra os manifestantes.

“Peço às forças de segurança que parem esses ataques de imediato e garantam a todos um acesso seguro e sem obstáculos à assistência médica”, completou Bachelet.

O Conselho Militar de Transição negou, porém, ter dispersado à força o acampamento de opositores.

“Não dispersamos o acampamento à força”, declarou o porta-voz do Conselho, o general Shamsedin Kabashi, ao canal Sky News Arabia, que sede nos Emirados Árabes Unidos.

“As barracas continuam no local, e os jovens podem circular livremente”, afirmou o general.

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O porta-voz disse, contudo, que as forças de segurança atuaram em uma zona “perigosa”, conhecida como “Colômbia”, perto do local dos protestos.

“Este local, chamado ‘Colômbia’, foi durante muito tempo uma fonte de corrupção e atividades ilícitas”, declarou o general.

“Matança”

A relação entre militares e manifestantes ficou tensa no mês passado após o fracasso das negociações, que gerou diversas advertências dos generais que governam o país desde 11 de abril, quando destituíram Al-Bashir por pressão popular.

A oposição anunciou a interrupção dos contatos com o Conselho Militar de Transição e convocou manifestações.

“Anunciamos o fim de qualquer contato político e de negociação com o Conselho golpista”, afirmou em um comunicado a Aliança pela Liberdade e a Mudança (ALC), líder dos protestos.

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A ALC convocou uma “greve e a desobediência civil total e indefinida a partir de hoje”, segunda-feira.

“No momento, não resta ninguém diante do quartel-general das Forças Armadas, apenas os cadáveres de nossos mártires, que não conseguimos retirar”, completou a ALC.

A Associação de Profissionais Sudaneses (APS), outra organização à frente dos protestos, citou um “massacre” e convocou os sudaneses à “desobediência civil total para derrubar o Conselho Militar pérfido e assassino”.

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, a ex-potência colonial, condenou o ataque aos manifestantes, que chamou de “passo escandaloso”.

“O Conselho Militar é plenamente responsável por esta ação e a comunidade internacional vai cobrar”, escreveu Jeremy Hunt no Twitter.

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Os Estados Unidos também condenaram hoje a “brutal” repressão militar contra manifestantes, afirmando que um governo civil pode ter um melhor relacionamento com Washington.

“Este foi um ataque brutal e coordenado dirigido por milícias das Forças de Apoio Rápido, expoentes de alguns dos piores crimes do regime de (Omar al-)Bashir”, tuitou o subsecretário de Estado americano para a África, Tibor Nagy.

“Estamos junto com os manifestantes pacíficos no Sudão. O caminho para a estabilidade, recuperação e associação com os Estados Unidos é por meio de um governo civil”, acrescentou.

“Os sudaneses clamam por novos líderes que não os submetam a este tipo de violência coordenada e ilegal”, insistiu.

A embaixada dos Estados Unidos em Cartum já havia exigido o fim da repressão.

“A operação das forças de segurança sudanesas é injustificável e deve cessar”, havia tuitado a representação diplomática americana.

A Anistia Internacional pediu que se considere “todas as formas de pressão pacífica, incluindo sanções específicas aos membros da autoridade transitória sudanesa responsáveis pelos violentos ataques desta manhã”.

O comandante do Conselho Militar, Abdel Fatah al-Burhan, visitou recentemente Egito, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, três países que expressaram apoio aos militares sudaneses.

Depois de governar o Sudão por quase 30 anos, Omar al-Bashir foi deposto e detido pelo Exército em 11 de abril.

Al-Bashir foi pressionado por um movimento sem precedentes, que teve início em 19 de dezembro após a decisão do governo de triplicar o preço do pão em um país abalado por uma grave crise econômica.

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