A prisão de Fabrício de Queiroz, nesta quinta-feira, 18, repercutiu na imprensa mundial. Apesar das implicações diretas atingirem o senador Flávio Bolsonaro, acusado de lavagem de dinheiro e desvio de fundos públicos, veículos internacionais avaliaram que o desdobramento da investigação de corrupção será especialmente prejudicial para a imagem do presidente Jair Bolsonaro.
O jornal americano The New York Times chamou a prisão de Queiroz de “outro golpe indireto para um líder já em apuros”, referindo-se ao presidente.
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Clique e Assine“[Bolsonaro] viu seus níveis de rejeição subirem conforme o número de mortos pelo coronavírus no Brasil chegou ao segundo mais alto do mundo e após a renúncia de seu popular ministro da Justiça, que alegou tentativa de interferência política na Polícia Federal“, explica o Times.
O texto também conta com a análise do professor de direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Michael Mohallem, que diz que a imagem do presidente foi contaminada, já que Flávio não é apenas seu filho, mas também um político e seu conselheiro. “Sua imagem será ainda mais erodida”, disse.
A publicação britânica The Guardian seguiu a mesma linha. Disse que a prisão de Fabrício Queiroz é “mais um golpe prejudicial” ao presidente, destacando as outras investigações acerca de “aliados importantes pela disseminação ilegal de notícias falsas” – a chamada CPI das fake news.
Além disso, o Guardian também destacou que a investigação de Flávio por corrupção prejudica a narrativa criada por seu pai na campanha eleitoral de 2018, construída justamente sobre a base do outsider contra a corrupção, “no estilo de [Donald] Trump“, o presidente dos Estados Unidos.
“A prisão de Queiroz foi particularmente prejudicial para o populista de direita, que foi eleito em 2018 retratando-se como um intruso político no estilo Trump que luta para livrar o Brasil da corrupção”, afirma o texto.
O jornal espanhol El País bateu na mesma tecla, descrevendo como o nome de Flávio começou a pipocar após um relatório do Controle de Atividades Financeiras (Coaf) mostrou, no fim de 2018, transações no valor de 1,2 milhão de reais, “número que as autoridades consideraram incompatível com seu salário e trabalho”.
“O escândalo de Flávio Bolsonaro eclodiu depois que seu pai venceu a eleição com uma campanha na qual ele sinalizou a luta contra a corrupção e antes mesmo dele assumir o cargo”, publicou o El País.
A publicação francesa Le Figaro seguiu no mesmo tom, dizendo que “a luta contra a corrupção, um dos principais temas de sua campanha eleitoral em 2018”, entra em contradição com as acusações de peculato de salários de funcionários do gabinete de Flávio.
“Esta é uma investigação potencialmente embaraçosa para Jair Bolsonaro”, diz o jornal.
Além disso, o Figaro cita um tuíte de Flávio, em que o senador afirma estar tranquilo quanto aos acontecimentos do dia. No Twitter, o filho mais velho do líder brasileiro denunciou uma “perseguição política” com o objetivo de “chegar ao presidente”.
Por fim, o La Nación, da Argentina, explicou o contexto da investigação de desvio de dinheiro no período em que Flávio foi legislador da Assembléia do Rio de Janeiro. O veículo deu destaque para a possível conexão entre a família Bolsonaro e o crime organizado no Rio de Janeiro, citando um pesquisador brasileiro que aponta Queiroz como peça chave para essa relação.
“Queiroz é o principal elo entre a família presidencial e as milícias do crime organizado no Rio de Janeiro. Sua prisão e o avanço de investigações em notícias falsas significam que o cerco da polícia está se aproximando de Bolsonaro e seus filhos”, afirmou Mauricio Santoro, professor de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) a jornal argentino.