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Maioria dos americanos está insatisfeita com a democracia, diz pesquisa

Levantamento revela tendência autoritária, com um terço dizendo desejar um “líder forte”, com poderes que independam do congresso ou das cortes

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 nov 2024, 08h56 - Publicado em 3 nov 2024, 18h59
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  • Às vésperas das eleições americanas, que ocorrem na próxima terça-feira, 5, uma pesquisa nacional revela a posição dos estadunidenses em relação à democracia. De acordo com o levantamento, feito pelo Centro de Democracia Sustentável da Universidade do Sul da Flórida, mais da metade está insatisfeita com o sistema, enquanto um terço diz apoiar líderes fortes, que possam tomar decisões independentes do Congresso ou dos tribunais. 

    A pesquisa teve duas fases, uma em setembro e outra em outubro, e mostra uma diferença entre democratas e republicanos. Entre os apoiadores do partido de Kamala Harris, 37,4% se disseram “não muito satisfeitos” ou “insatisfeitos” com a democracia em setembro. Em outubro, o número foi de 35,6%. Já entre os apoiadores do partido de Donald Trump, a taxa foi consideravelmente maior, com 66,1% e 61,6%, respectivamente. 

    “Muitos americanos sentem que eles foram deixados para trás, seja por líderes políticos, seja pelo congresso”, diz Joshua Scacco, diretor do Centro de Democracia Sustentável. “Independentemente de quem for eleito, esse será um grande desafio porque essa desconfiança não irá embora com o fim das eleições. Essa pessoa precisará encontrar maneiras de reforçar a força da democracia americana.”

    As tecnologias foram vistas como influentes nesse cenário. Cinco em cada dez americanos disseram acreditar que as redes sociais tiveram um efeito negativo sobre a democracia. Embora acreditem que foi útil para deixar as pessoas mais informadas (56,2%), também relataram acreditar que essas ferramentas deixaram as pessoas mais divididas (73,2%), mais dispostas a violência (52,4%), menos propensas a aceitar pessoas com histórias diferentes (42%) e menos civis nas conversas sobre política (68,5%).

    + Ciência matemática ajuda a explicar influência das redes na política

    Tendência autoritária

    Os resultados também refletem uma tendência ao autoritarismo, que diminuiu de um mês para outro, mas permanece considerável. A dias das eleições, 30,9% dos entrevistados disseram que um “líder forte”, que possa tomar decisões independentes do congresso e das cortes, é “desejável”. A taxa é de 36,4% entre os democratas e de 31,6% entre os republicanos, mas chegou a passar de 50% em ambos os grupos na pesquisa de setembro. 

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    Para Scacco, o número é preocupante, mas traz alguma esperança. “Essa variação entre os dois meses também me surpreendeu”, disse. “É interessante que a porcentagem tenha diminuído de forma significativa de um mês para outro. É difícil dizer qual a causa por trás disso, mas acredito que possa ser parcialmente atribuído às constantes noticias que associam Trump ao fascismo, além da campanha democrata que atribuiu a ele a pecha de ‘estranho’.”

    Os dados reflete uma preocupação de pesquisadores. Em uma pesquisa divulgada em outubro, na revista Science, um grupo internacional de cientistas revelou que, em diferentes países, eleições e liberdades civis são vistos como os principais pilares da democracia. Preocupou os especialistas, contudo, que os cidadãos não vissem os sistemas de pesos e contrapesos como essenciais, ou seja, não encaram a distribuição de poderes entre executivo, legislativo e judiciário como algo importante para o sistema. “Esta perna mais fraca da tríade implica que minar os freios e contrapesos tem menos probabilidade de provocar uma reação pública negativa do que subverter eleições ou liberdades civis”, dizem os autores.

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    Medo

    Um dados interessante do estudo também revela os efeitos da polarização. Embora tenha havido uma pequena diminuição entre setembro e outubro, na etapa mais recente da pesquisa cerca de seis em cada dez estadunidenses disseram que o partido oposto pode ferir ou sabotar o país, enquanto mais da metade disseram que os oponentes não ligam para os Estados Unidos. Menos de um quarto dizem concordar que o grupo adversário quer o melhor para a América. “Isso não é saudável para a democracia”, disse Scacco.

    Conduzida pelo Centro de Democracia Sustentável da Universidade do Sul da Flórida em parceria com a Universidade Rutgers, a Universidade de Minnesota e a Universidade de Kansas, a pesquisa foi registrada no sistema do governo americano, contou com 1 450 participantes entre 13 e 25 setembro; e com 1 037 participantes entre 16 e 29 de outubro. A margem de erro é de 3%. 

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