O presidente venezuelano Nicolás Maduro anunciou que criará “normas muito restritas” para acabar com o que chamou de “sensacionalismo” da imprensa. Em mais um passo para calar o pouco que resta de imprensa independente no país, o herdeiro político de Hugo Chávez recorreu mais uma vez ao fraco discurso de que os jornais alimentam a criminalidade no país. “Vão me chamar de ditador. Não me importa, vou fazer normas muito restritas para que se acabe com o sensacionalismo e a campanha e a propaganda que se alimenta do sangue e da morte que promove”, bradou.
Com o anúncio desta sexta-feira, Maduro prova mais uma vez que aprendeu bem a lição de seu antecessor Hugo Chávez de aproveitar situações de comoção pública para tomar medidas que aumentam o autoritarismo do Estado. No início de janeiro, a atriz, modelo e ex-miss Venezuela Mónica Spear levou o presidente a convocar uma reunião com governadores e prefeitos das principais cidades para tentar buscar uma solução para um dos principais problemas do país. O encontro foi marcado pelo aperto de mãos entre Maduro e o chefe da oposição, Henrique Capriles, demonstrando que os dois rivais haviam se unido, ainda que momentaneamente, diante de um objetivo comum – agora manchado pelo que promete ser o aperto do cerco contra a imprensa que ousa se opor ao oficialismo.
Leia também:
Brasileira é morta, mutilada e exposta em praça pública na Venezuela
Nesta sexta, Maduro citou jornais como o El Nacional e o El Universal como veículos “da burguesia” que apostam no “fracasso” do Plano de Pacificação, previsto para ser lançado no próximo dia 14. E ainda criticou o dono do El Universal por morar nos Estados Unidos. “Deveria ser proibido que gente que não vive na Venezuela seja dona de meios de comunicação. Parece-me uma boa ideia. Vamos estuda-la”.
Também voltou a bater na tecla de que seu governo vai “curar” a sociedade venezuelana “dos antivalores do capitalismo e do culto às armas, à violência e às drogas”. Nesta mesma linha, o mandatário já disse que filmes como os do Homem-Aranha são “fábricas de valores negativos”.
Leia mais:
Morte de ex-miss chama atenção para criminalidade na Venezuela
Morte de turista – O anúncio foi feito no dia em que uma turista alemã foi assassinada por homens armados na Ilha Margarita. Ela havia desembarcado no local durante um cruzeiro quando foi abordada pelos assaltantes, que estavam em uma moto. Outro turista também foi baleado e ficou ferido.
No ano passado, quase 25.000 pessoas foram mortas na Venezuela, cinco vezes mais do que em 1998, quando Chávez foi eleito. Apesar de rico em petróleo, o país tem a terceira maior taxa de homicídios do mundo, atrás de Honduras e El Salvador.