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Livro traz um novo nome na lista de suspeitos de ser Jack, o Estripador

Mas o mistério em torno da identidade do mítico assassino londrino permanece vivo

Por Pedro Cardoni 3 set 2023, 08h00

A Londres sombria, com ruas estreitas e becos apertados, onde as carruagens abriam caminho em meio à névoa e o odor fétido do Rio Tâmisa, ficou lá no fim do século XIX. O cenário, contudo, sobrevive no imaginário de pessoas de todo o mundo, graças à literatura policial que adora fazer da paisagem o palco de crimes misteriosos a serem desvendados por detetives brilhantes — sir Arthur Conan Doyle, o criador de Sherlock Holmes, que o diga. O fascínio pela face macabra da efervescente era vitoriana britânica é alimentado ainda por um personagem da vida real que se tornou internacionalmente famoso, mesmo sem jamais ter a identidade revelada: Jack, o Estripador. O enigma que cerca o assassino em série mais famoso da história permanece até hoje, mas, agora, surge um novo nome na longa lista de suspeitos de serem o homem que matava e mutilava suas vítimas.

Trata-se de Hyam Hyams, um fabricante de charutos local, que era alcoólatra e sofria de epilepsia e paranoia. A hipótese de ser ele o autor de ao menos seis assassinatos de mulheres no bairro de Whitechapel, ao leste da capital do Reino Unido, foi levantada por Sarah Bax Horton, a tataraneta de um policial britânico que integrou a equipe de investigadores dos crimes, ocorridos entre agosto e novembro de 1888. Obcecada pelo caso, a funcionária pública aposentada revisou os registros do inquérito e pesquisou a ficha médica de cada um dos acusados. Descobriu que Hyams, um sujeito de 35 anos, tinha um braço rígido e problemas no joelho, características físicas que batiam com relatos de testemunhas dos homicídios. Além disso, ele demonstrava personalidade violenta, já que tinha atacado a mãe e a esposa com uma faca. A conclusão é detalhada no livro “Jack de um braço só: descobrindo o verdadeiro Jack Estripador”, que acaba de ser publicado na Inglaterra, ainda sem previsão de lançamento no Brasil. “A polícia suspeitou de Hyams, mas devido à falta de evidências, ele não pôde ser levado à Justiça”, disse a escritora a VEJA.

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INSPIRAÇÃO - Cena de Do Inferno: teorias sobre o facínora alimentaram filmes, documentários e obras literárias (./Divulgação)

O serial killer costumava atacar prostitutas de pele branca, com idade entre 24 e 45 anos, durante o ato sexual. Ele as estrangulava até ficarem inconscientes, quando aproveitava para cortar a garganta e o abdome delas. A violência da ação foi a faísca necessária para fazer as vendas de jornais explodirem na nascente imprensa britânica, em uma cobertura com tintas carregadas. “Jack surgiu em um momento em que o imaginário popular era mobilizado por vampiros, fantasmas e monstros, se tornando um símbolo do medo, da impunidade e da violência”, explica Diego Paleólogo, especialista em estudos do horror da UERJ. Os jornais chegaram a publicar correspondências que supostamente teriam sido escritas pelo matador. Uma das cartas era intitulada “Do Inferno” e veio acompanhada de um pacote contendo metade de um rim humano. Já o famoso apelido surgiu em um panfleto em que o facínora assim se identificava ao confessar os crimes.

A busca por holofotes viria a se tornar uma marca para diversos outros assassinos seriais nos quatro cantos do planeta. O ineditismo do caso, no entanto, serviu para que Jack levasse vantagem considerável em relação à polícia, ainda desacostumada com casos midiáticos. “A corporação era mal equipada e inexperiente”, pontua Trevor Marriott, criminologista que se dedica a estudar o assassino. “Muitos agentes não tinham nenhum preparo porque foram promovidos à Scotland Yard diretamente do meio militar, sem nenhum treinamento”, diz. À época mais de 2 000 pessoas foram entrevistadas, 300 investigadas e oitenta detidas, números superlativos que, por si só, demonstram quanto os detetives ficaram perdidos. As suspeitas mais fortes recaíam sobre oito homens que nunca foram formalmente acusados. Hyams não era um deles.

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Tão abundantes quanto as incertezas são as especulações. As teorias em torno da identidade secreta do sinistro personagem incluem atores de teatro, criminosos americanos, médicos — dada a facilidade que tinha em fazer incisões — e até integrantes da família real, como o príncipe Albert Victor, filho do rei Eduardo VII. A controversa hipótese foi trazida à tona na década de 70 e considerava a possibilidade de ele ter se tornado violento depois de contrair sífilis, apesar de diversos álibis no sentido contrário. Ao longo de mais de um século, o caso alimentou documentários, filmes, livros e até circuitos turísticos por Londres, onde é possível visitar os lugares em que o assassino deixou sua marca e bares inspirados em sua história. Sem nunca ser indiciado, Hyams acabou internado em um hospital psiquiátrico, um ano após os massacres, até falecer, em 1913. Já o mito de Jack, o Estripador segue mais vivo que nunca.

Publicado em VEJA de 1º de setembro de 2023, edição nº 2857

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